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O ministro Carlos Fávaro, da Agricultura, foi criticado por deputados da oposição nesta quarta (19) por defender que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realize um novo leilão para a compra de arroz importado. O primeiro, há duas semanas, foi anulado por suspeitas de irregularidades e derrubou o então secretário de Políticas Agrícolas, Neri Geller, que saiu dizendo ter sido usado como “bode expiatório”.
Fávaro prestou esclarecimentos à Comissão da Agricultura e voltou a justificar a necessidade do leilão por conta da especulação que fez o preço do grão disparar após a tragédia climática no Rio Grande do Sul. O estado responde por 70% da produção nacional, mas já havia colhido 78% da safra e havia apenas uma dificuldade de escoamento.
Ele foi acusado pela oposição e por entidades do setor de prejudicar a produção nacional ao determinar o leilão. Fávaro, no entanto, afirmou que a compra “não se trata de afrontar os produtores”.
“O preço do arroz subiu 30%, 40% diante da tragédia. É preciso ter um estoque necessário para situações de dificuldade, para vender em momentos de especulação”, afirmou.
O leilão da semana retrasada chegou a ser realizado após o governo suspender um primeiro edital que compraria arroz de produtores do Mercosul, mas que, segundo o ministro, elevaram os preços em 30%. A partir disso, o governo buscou o grão em outros mercados.
“Ao tentarmos comprar 100 mil toneladas diante das dificuldades de logística do Rio Grande do Sul, o valor dava para apenas 70 mil toneladas. Se não foi ataque especulativo, o que foi? O que o governo deveria fazer”, questionou.
O governo havia anunciado a intenção de comprar 1 milhão de toneladas de arroz no mercado externo, mas o leilão acabou arrematando 263 mil toneladas ao custo de R$ 1,3 bilhão. O certame, no entanto, foi anulado após se apurar que três das quatro empresas vencedoras não operavam no mercado, o que levantou suspeitas de irregularidades.
Mesmo assim, o governo afirmou que realizaria um novo edital, mas com a supervisão da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Advocacia-Geral da União (AGU). O deputado federal Marcos Pollon (PL-MS) criticou a insistência e afirmou que “esse 1 milhão de toneladas deverá desestimular o produtor do Rio Grande do Sul no momento em que está mais fragilizado”.
“Ministro, nos ajude, suspenda esses leilões e retome o trabalho de recuperação do agro. O aumento no preço ao produtor de arroz foi de 11% a 15%, não foi de 30%. Se alguém bota margem alta lá no supermercado, se está especulando com os preços, isso é outra coisa, precisa fiscalização”, emendou o deputado Afonso Hamm (PP-RS).
Ainda durante a audiência na comissão, Fávaro negou que tenha julgado antecipadamente Neri Geller, que foi demitido no mesmo dia em que o governo anunciou a suspensão do leilão. O então secretário foi colocado em xeque por conta da sociedade do filho dele, Marcello Geller, em uma das corretoras que participaram do leilão.
Carlos Fávaro, no entanto, negou que tenha determinado a demissão, e que a saída de Geller foi “a pedido” – o que foi negado pelo ex-secretário.
Na semana passada, Neri Geller se pronunciou sobre a demissão e disse que o leilão “foi mal conduzido” e “de forma muito açodada”. A suspeita de ligação do filho com a corretora e a demissão o fez acreditar que estava sendo usado como “bode expiatório”, e que pediu à Polícia Federal para investigar as afirmações.
A autoridade abriu um procedimento para investigar as suspeitas de irregularidades envolvendo as empresas que participaram do leilão.