A economia em dificuldades é algo em comum entre a posse de Lula em 2003, como presidente, e sua nomeação como ministro da Casa Civil em 2016. A grande diferença é que o momento político de 13 anos atrás permitiu a uma retomada rápida da confiança na economia.
Infográfico: Lula e a economia
Em 2002, o Brasil enfrentou uma maxidesvalorização do real. Houve fuga de capitais e a inflação disparou. O país não entrou em uma recessão profunda como hoje, mas o desemprego estava alto, entre 11% e 12%. Na campanha, Lula dizia que o país precisava gerar 10 milhões de empregos.
A desconfiança do mercado, que levou à desvalorização do câmbio e à alta da inflação, tinha relação com a mudança de governo. Lula entendeu que precisava reconquistar a confiança e levou para o Banco Central um executivo de um banco multinacional, Henrique Meirelles, e, para a Fazenda, um habilidoso articulador político, Antonio Palocci.
Para evitar um aprofundamento da crise, a dupla fez uma operação casada, de manutenção do superávit primário (que fecharia em mais de 3% do PIB entre 2003 e 2008) e elevação dos juros para segurar os preços. Em seguida, a política monetária foi relaxada para que os juros menores permitissem uma série de pequenas reformas para elevar o crédito, como a ampliação do consignado e, mais tarde, os financiamentos habitacionais – nos oito anos de Lula, o crédito em relação ao PIB praticamente dobrou.
Ao assumir a Casa Civil com uma possível carta branca para influenciar a área econômica, Lula enfrenta um desafio muito parecido. Precisa novamente resgatar a confiança – não tanto do mercado, mas de empresários e consumidores, que temem os efeitos da maior recessão da história do país. Outro detalhe é que o governo está no centro dos problemas que provocaram a crise.
O superávit mantido ao longo dos dois mandatos de Lula foi corroído de 2012 em diante, quando o governo acelerou o que se costumou chamar de “nova matriz econômica”. Houve aumento na concessão de crédito subsidiado via BNDES, desonerações com alto custo orçamentário e controle de preços da gasolina e da energia. Funcionou por pouco tempo, o suficiente para permitir a reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Desde 2014, o desequilíbrio nas contas públicas acelerou a expectativa de inflação, elevou as taxas de juros e reduziu o crescimento do país. A recessão atual começou oficialmente no segundo trimestre de 2014 e só deve acabar entre o fim deste ano e o início de 2017.
Lula terá de escolher se usará novamente a estratégia de 2003, ou se vai ceder à tentação de usar atalhos para a retomada do crescimento. Ideias estranhas não faltam. A última que entrou em pauta é o uso das reservas internacionais em investimentos, algo rechaçado na quarta-feira pelo governo.
O tempo da política não ajuda. O governo está pressionado pela ameaça do impeachment e uma melhora na economia poderia trazer paz para a base aliada. As ferramentas à disposição não são muitas. Sem caixa para gastos extraordinários, é provável que o governo tente melhorar as condições do crédito (algo que já está na cartilha do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa) e acene com medidas que tenham efeito sobre o emprego. A construção civil, segundo os primeiros comentários sobre as intenções de Lula, seria um caminho para isso. O grande risco é essas medidas não serem suficientes para evitar ações de resultado imprevisível, como a redução à força dos juros.