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Entrevista

“Desejamos ver progresso fiscal”, diz diretora da Fitch sobre o Brasil

 | Luis Ushirobira/Valor/Folhapress

Diretora sênior da Fitch responsável pela avaliação do Brasil, Shelly Shetty vê potencial mais fraco de crescimento do que em países com a mesma classificação. Melhora no ambiente político e aprovação de ajuste fiscal estão na receita da especialista para o país evitar a perda de grau de investimento, selo de bom pagador que é referência nos mercados internacionais.

O que o Brasil deve fazer para evitar um novo rebaixamento de sua nota soberana pela Fitch?

Para nós, para que o país volte a ter uma perspectiva estável, desejamos ver progressos na consolidação fiscal e na recuperação da confiança que foi perdida. Também achamos necessário que haja uma melhora no ambiente político que, por sua vez, teria impacto positivo na aprovação de medidas do ajuste fiscal.

O que motivou a manutenção da nota em perspectiva negativa?

A verdade é que o potencial de crescimento do Brasil se deteriorou bastante nos últimos anos e ele continua em um nível muito fraco, seja comparado com outros países com a mesma classificação de risco, seja comparado com outros grandes mercados emergentes. Um dos motivos que nos levou a manter a perspectiva negativa para o país foi esse, uma vez que se espera retração da atividade também no ano que vem. Mas, claro, também consideramos os desafios enfrentados no lado fiscal e as dificuldades do governo, sobretudo nas negociações com o Congresso.

A presidente Dilma Rousseff está sob a ameaça de um processo de impeachment. Isso foi preponderante para que houvesse o rebaixamento?

A incerteza política continua alta e isso está prejudicando a confiança, atrasando o retorno de uma trajetória ascendente para o investimento e dificultando a implementação de uma agenda de ajuste fiscal. Um dos lados da incerteza política é, sem dúvida, a questão de um possível impeachment. Então, em algum grau, isso também está pesando no cenário.

Um novo rebaixamento pode acontecer a qualquer momento?

Não temos um calendário que estime quando ocorrerá a próxima ação de rating. Certamente, continuamos a monitorar a situação do Brasil, mas eu não gostaria de dar um cronograma.

Caso o Brasil perca seu grau de investimento pela Fitch, ele deixará de ter a chancela de duas grandes agências, exigência de muitos fundos de investimento internacionais. Quais implicações isso teria para a economia do país?

Não costumamos comentar sobre as possíveis implicações de nossas ações de rating. Mas, falando de modo geral, é possível haver impacto negativo nos fluxos de portfólio de investimento. Nesse sentido, a situação econômica se torna ainda mais desafiadora.

A disparada do dólar influenciou a decisão de rebaixar o Brasil?

Gostamos de afirmar que a flexibilidade da taxa de câmbio pode ajudar um país a absorver choques externos e a recuperar sua competitividade, embora, é claro, isso possa ter efeitos como a alta da inflação. No caso do Brasil, o país tem volume de reservas internacionais relevantes para permitir a absorção de um choque externo.

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