O desejo de mobilidade e de autonomia dos indivíduos cria oportunidades para solucionar os problemas de trânsito nas grandes cidades. A tese é do sociólogo e consultor Dario Caldas, fundador do Observatório de Sinais, uma consultoria de tendências de São Paulo. Segundo ele, ainda que o próprio carro seja o maior símbolo de autonomia individual do século 21, o paradoxo é que, à medida que o automóvel deixar de ser eficiente, ele passará a ser trocado por outros meios de transporte. Transformará também a indústria de automóveis, que repensará o seu produto. "As pessoas querem autonomia. Na hora em que o carro não resolve, o indivíduo deixará o automóvel em casa para pegar o metrô ou a bicicleta".
Caldas falará hoje em Curitiba no Top Innovation, evento da Federação das Indústrias do Estado Paraná (Fiep) dentro da Semana Global de Empreendedorismo. A palestra "Tendências em Mobilidade Urbana" ocorre às 14 horas, no Cietep, na Avenida Comendador Franco, 1.341, Jardim Botânico. Veja os principais trechos da entrevista:
Como a mobilidade está ligada ao futuro das cidades?
A mobilidade urbana é o que chamamos de macrotendência, uma tendência que é transversal e abrange vários setores de atividade. Não é só uma questão de transporte ou tecnologia. O vírus da mobilidade afetou todas as esferas da cultura e do consumo. Em toda a história das civilizações, foi na década atual que pela primeira vez o número de pessoas vivendo nas cidades é maior do que no campo. Há também um interesse renovado pelas hipercidades. Hoje as metrópoles ganham tanto interesse quanto os países. Você fala "eu vou a Xangai" ou "vou a Nova York" tanto quanto fala "vou à China" ou "vou aos EUA". As tendências que importam para o século 21 estão acontecendo nessas metrópoles. A questão da mobilidade é que as cidades que vão se tornar enormes ao longo deste século têm um perfil diferente das metrópoles anteriores, do século passado. Agora, estão localizadas nos países emergentes, e têm as mesmas características de São Paulo, por exemplo, que cresceu abruptamente e precisa resolver todos os problemas de uma vez. E a mobilidade vai definir a qualidade de vida nesses lugares.
Como a solução para a mobilidade urbana pode vir do desejo de autonomia dos indíviduos?
Há um desejo forte do indivíduo por mobilidade. O que as pessoas querem é poder se movimentar. Elas próprias vão substituindo maneiras e modos improdutivos de se deslocar por outros, que são mais práticos, que deem a elas aquilo que procuram, ou seja, a autonomia individual. Na hora em que o carro não resolve, o indivíduo deixará o automóvel em casa para pegar o metrô ou a bicicleta. Criam-se oportunidades.
Como a indústria do automóvel está se comportando?
O automóvel teve nos últimos cem anos um papel primordial dentro do capitalismo, dentro do imaginário do consumo das famílias e do indivíduo. Mas toda essa cultura agora está sendo repensada. O automóvel do século 20 não cabe mais na cidade do século 21. Dentro da indústria automobilística há um movimento forte na busca por fontes alternativas, de modelos alternativos, uma tendência aos carros menores, carros mínis ou até micros.
O crescimento da classe C e o provável aumento no número de pessoas com carro é uma ameaça?
O Brasil está na contramão. O que o governo fez nos últimos anos? Em termos de mobilidade, apostou fundo na indústria de motocicletas, por exemplo. Desonerou, barateou e todo mundo comprou. Resultado: acabamos com um problema de saúde pública. Em São Paulo, houve uma explosão no número de acidentes com motocicletas. Não se pensou em infraestrutura, e agora tenta-se resolver a posteriori os problemas que foram criados, com a criação de faixas exclusivas, por exemplo.
O senhor pode citar outras tendências?
Uma das tendências, sem dúvida nenhuma, é o transporte intermodal. A ideia de pulverizar mais as viagens e os deslocamentos. É uma pena que ainda haja muito pouca vontade política na implementação desses projetos no Brasil.
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