O mercado de trabalho sucumbiu à crise econômica no ano passado. O desemprego cresceu e a renda do trabalhador encolheu numa velocidade que não era vista há mais de uma década nas regiões metropolitanas. Segundo dados do IBGE divulgados nesta quinta-feira (28), a taxa de desemprego média foi de 6,8% no ano passado nas seis maiores regiões metropolitanas do país, 2 pontos percentuais acima da taxa de 2014 (4,8%).
Uma piora do mercado de trabalho nesse ritmo nunca havia sido registrada pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, iniciada em março de 2002 e que leva em conta as regiões metropolitanas de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre. Foi ainda a maior taxa média de desemprego desde 2009 (8,1%).
Sob impacto da rara combinação de desemprego e inflação alta, o rendimento médio do trabalhador foi de R$ 2.265,09 no ano passado, queda de 3,7% em relação a 2014, segundo a pesquisa. Foi a primeira queda da renda desde 2004, após 11 anos de ganhos anuais sucessivos.
O ano de 2015 foi marcado por demissões e aumento da procura por emprego. O número de pessoas ocupadas recuou de 23,7 milhões para 23,3 milhões de pessoas de 2014 para 2015, considerando a média anual, uma queda de 1,6%. Foi a maior queda da série histórica.
Comparados os meses de dezembro de 2014 e 2015, essa queda é ainda mais intensa, de 2,7%. Foram 642 mil empregos perdidos.
Segundo Tiago Cabral, economista do Instituto de Economia da FGV (Fundação Getulio Vargas), parte da piora do mercado de trabalho tem origem no fim do ciclo de crescimento baseado no consumo das famílias. “As políticas do governo de incentivo ao consumo endividaram demais as famílias. São 59 milhões de consumidores inadimplentes. Agora, com aumento de juros, esse consumidores cortaram gastos e afetaram a indústria”, disse Cabral.
O mercado de trabalho se ressente ainda pelo aumento da inflação e elevação de juros, o que reduziu o poder de compra das famílias e também o ritmo da atividade econômica no país.
Para Cabral, a redução dos investimentos e os desdobramentos da Operação Lava-Jato sobre construtoras também afetaram o desempenho do mercado de trabalho, sobretudo no corte de trabalhadores no ramo de construção.
Pelos dados da pesquisa, a indústria cortou 296 mil postos de trabalho em dezembro de 2015, na comparação ao mesmo mês do ano anterior, queda de 8,4%. Já o comércio cortou 112 mil postos nesse mesmo intervalo, baixa de 2,5%.
Fila
Com o rendimento dos trabalhadores em queda, mais pessoas procuraram emprego no ano passado. São jovens, idosos e donas de casa que estavam afastados do mercado de trabalho apoiados na renda familiar mais alta.
Esse contingente de pessoas se somou à massa de trabalhadores que perderam emprego e pressionaram as estatísticas. Na média anual, 1,7 milhão de trabalhadores procuraram emprego sem conseguir no ano passado, crescimento de 42,5%.
Em dezembro, eram 659 mil pessoas a mais na fila de emprego, 61,4% a mais do que no mesmo mês do ano anterior, segundo o IBGE. Isso significa 1,73 milhão de pessoas.
Dezembro
Isoladamente no mês de dezembro, a taxa de desemprego foi de 6,9%, abaixo da registrada em novembro do ano passado (7,5%) e maior do que no mesmo período de 2014 (4,3%).
Essa redução na passagem dos meses de novembro para dezembro era esperada por causa dos empregos temporários do fim de ano. Além disso, uma parcela dos desempregados costuma parar de procurar emprego no fim de ano, para retomar a busca no início do ano seguinte.