No segundo trimestre de 2014, quando o PIB brasileiro teve uma retração de 0,8% e abriu caminho para a recessão, a taxa de desemprego no país era de 6,8%. Até fevereiro do ano seguinte ela manteve-se abaixo dos 7% e só foi ultrapassar a barreira dos 10% um ano depois, em fevereiro deste ano.
Esse descompasso entre os indicadores de atividade econômica e de emprego é comum e, do mesmo modo que a taxa de desocupação demorou a crescer enquanto a economia se afundava, a tendência é que ela também demore a diminuir no momento em que houver a retomada do crescimento econômico no Brasil.
GRÁFICO: PIB brasileiro cai e taxa de desemprego sobe
Segundo o economista Luciano Nakabashi, professor da USP de Ribeirão Preto, o mercado formal de trabalho demora a reagir porque, no começo de uma recessão, muitas empresas relutam em demitir porque têm expectativa de uma recuperação no curto prazo. “Quando se demite uma pessoa, existem os custos trabalhistas, além da perda de uma pessoa que já tem experiência nas atividades que realiza, sendo custoso treinar uma pessoa no momento da contratação”, avalia.
No momento de retomada, o impacto no desemprego segue a mesma tendência. “Em um momento de recuperação, existe certa capacidade ociosa, inclusive de trabalhadores que a empresa resistiu em demitir, pois sabe que será difícil encontrar novamente um trabalhador do mesmo nível no momento da recuperação. Por isso, em um primeiro momento, ocorre uma recuperação da economia com pouco impacto no mercado de trabalho”, explica Nakabashi.
14%
No dia em que anunciou o nome do economista Ilan Goldfajn para o comando do Banco Central, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que o desemprego pode chegar a 14%. “Se nada for feito, se não for tomada medida nenhuma, se não restaurarmos a confiança, se não tomarmos medidas que visem restaurar, por exemplo, a trajetória da dívida pública e várias outras coisas, em resumo, sem a restauração da confiança e com a economia em contração como está no momento e se isso continuasse – o que obviamente não é o caso – o desemprego poderia chegar a 14% ao ano”.
Atualmente, a taxa de desemprego está em 11,2% –resultado obtido no trimestre entre fevereiro e abril deste ano e que se manteve m maio. Na avaliação de alguns especialistas, a taxa deve seguir crescendo até o fim deste ano. Para o economista José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, a taxa de desocupação deve atingir 13% no mês de setembro ou outubro de 2016.
“A queda do desemprego acontece lentamente. Normalmente o desemprego estabiliza, permanece uns seis meses estabilizado em nível elevado e depois então começa a cair. No evento atual vai demorar ainda mais. Não estou imaginando que a economia vai crescer de forma acelerada nos próximos três ou quatro anos”, analisa.
Queda só em 2018
Nas projeções econômicas de longo prazo elaboradas pela equipe econômica do Bradesco, o desemprego começa a cair apenas em 2018, mesmo que o banco preveja um crescimento de 1,5% do PIB já no ano que vem. A previsão do banco é que em 2017 a desocupação atinja 11,9% da força de trabalho.
Economistas não veem retomada do país no curto prazo
Os economistas destacam que para haver retomada do emprego é preciso haver sinais mais claros de recuperação da economia. José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, avalia que ainda é cedo para falar em crescimento. “Em geral, o primeiro setor a estabilizar é o industrial. Segundo ele, a indústria já vem apresentando alguns sintomas de estabilidade, mas o setor ainda está em queda. A gente deve esperar”, afirma.
Para o professor de economia da UFRGS, Cássio Calvete, a recuperação da economia depende fortemente da estabilização do cenário político. “A crise se explica muito mais pela questão política do que pelos fundamentos econômicos. A instabilidade política fez a economia despencar, portanto a retomada da economia e do mercado de trabalho está muito mais dependente da questão política do que da econômica”, diz.
O próprio presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, é parcimonioso ao falar do crescimento econômico. “Existe a chance de termos chegado ao fundo do poço. Estou falando do passado. Acho que a confiança nas políticas está começando a aumentar e isso é capaz de gerar uma recuperação. Essa não será de um dia para o outro, mas é capaz de ser uma recuperação sistemática, contínua”, disse, em entrevista ao jornal Valor Econômico.
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