Quando se compara o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) entre os países integrantes dos chamados Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o resultado é sempre desfavorável aos brasileiros. China e Índia crescem mais que o Brasil todos os anos desde 1992. Se a comparação for feita, porém, com a evolução da renda familiar, o Brasil segue sozinho na frente.
A tradução disso é que a desigualdade social entre os brasileiros tem caído em ritmo acelerado, numa tendência oposta à que se verifica entre chineses, russos, indianos e sul-africanos. A renda global deles cresce mais, porém fica mais concentrada.
Essa é uma das principais conclusões do levantamento "Os Emergentes dos Emergentes", realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e apresentado ontem em São Paulo pelo economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da instituição, Marcelo Neri.
Comparando por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) as taxas de crescimento anual de renda domiciliar per capita dos 20% mais pobres e dos 20% mais ricos no Brasil, na década de 2000, o levantamento mostrou que o bolo dos pobres cresceu 6,3%, enquanto o aumento dos ricos foi de 1,7%. Na China ocorreu o inverso: os mais pobres ficaram com 8,5% e os mais ricos, com 15,1%. "A distribuição dos frutos do crescimento foi maior no Brasil", disse Neri.
Mobilidade
O efeito mais claro desse processo ocorrido no Brasil é a notável mobilidade entre as classes sociais. De acordo com o levantamento da FGV, um total de 13,3 milhões de brasileiros foram agregados às classes A, B e C.
Neri chamou a atenção sobretudo para o volume de pessoas que migraram das classes D e E para a C. Foram 39,5 milhões de pessoas entre 2003 e maio deste ano. "Isso é quase uma Espanha inteira", disse ele. "Se a comparação for feita em um período mais longo, a partir de 1993, veremos que 60 milhões de pessoas, quase uma França, subiram para a classe C." Esse processo de mudanças, na avaliação de Neri, está em pleno curso, apesar das medidas do governo destinadas a arrefecer o crescimento econômico.
Municípios
A FGV também compôs rankings das classes econômicas nas diferentes cidades do país. Entre os municípios mais ricos, Niterói aparece em primeiro lugar, com 30,7% da população na classe A. Depois vêm Florianópolis (27,7%), Vitória (26%) São Caetano do Sul (26,5%), no ABC paulista, Porto Alegre (25,3%), Brasília (24,3%) e Santos (24,1%).
Se forem consideradas juntas as classes A, B e C, o município gaúcho de Westfália apresenta 94,3% da população nessas faixas, a maior do país. E as 30 cidades brasileiras com maior participação nas classes AB e C estão todas na Região Sul do país. "O Sul é a região em que há a menor desigualdade de renda no país, o que explica esse dado", diz Neri.