"A partir deste momento, todos os aparelhos eletrônicos devem ser desligados." O recorrente alerta dado durante as viagens de avião pode desaparecer a partir do próximo ano pelos menos nos Estados Unidos.
Diante da cada vez mais complicada tarefa de conseguir fazer os passageiros cumprirem as regras de uso de eletrônicos durante taxiamento, pouso e decolagem, a Administração Federal de Aviação (FAA), a Anac americana, está revisando suas normas, mas a mudança não inclui os smartphones, apenas eletrônicos "para leitura", como Kindles e iPads.
A campanha pela liberação do uso de eletrônicos durante todo o voo está sendo liderada pelo jornalista Nick Bilton, do New York Times. Desde 2011 ele vem escrevendo sobre como a FAA e o que ele diz também vale para a Anac não tem embasamento técnico para a decisão de proibir o uso de eletrônicos para os passageiros.
Pelas regras atuais no Brasil, os aparelhos só são permitidos acima de 10 mil pés. "Esses aparelhos, quando ligados e aptos a receber ou enviar algum tipo de sinal, podem interferir nos equipamentos da aeronave. Isso não quer dizer que efetivamente interferem", afirmou, em nota, a Anac, mostrando que ela própria não tem certeza se há ou não interferência.
Questionada sobre os estudos técnicos que embasam a decisão, a agência apontou apenas para os textos que regulamentam a aviação civil no Brasil é lá que estão as regras, mas não o porquê de elas terem sido criadas.
Dois pontos
Em geral, há duas principais questões que levantam suspeitas sobre o uso de eletrônicos: interferência e o risco de um desses objetos voar e machucar alguém. Neste último caso, um Kindle ou um iPad hoje são muito mais leves que qualquer cópia em papel de Guerra e Paz.
No primeiro ponto a questão é mais complicada. Ainda assim, a própria Anac afirma que nunca houve registro de acidentes causados por uso de celular em voos: "Lembramos que a Anac não tem registros de acidente/incidente aéreo provocado por interferência de aparelhos celulares no Brasil. Houve episódios isolados de identificação de interferência devido a esses tipos de aparelhos eletrônicos, mas sem danos aos voos".
O piloto pode
A interferência também parece não ser um problema quando a Anac afirma que pilotos e copilotos têm permissão para uso de eletrônicos. Companhias americanas que operam no Brasil já oferecem iPads para auxiliar a tripulação durante o voo. Se eles podem, por que os passageiros não?
TAM e Gol foram procuradas pela reportagem, mas só a Gol respondeu às perguntas, e apenas parcialmente: "A Gol cumpre a legislação vigente, da Anac, que permite o uso dos equipamentos eletrônicos a bordo, acima de 10 mil pés. A companhia está atenta à legislação e irá se adaptar caso existam mudanças".