A regulamentação do mercado de desmanche de veículos, feita em maio pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) e em fase de implantação pelo país, deve abrir margem para o barateamento das apólices de seguro de veículos e para o lançamento de uma modalidade popular, que se valha de peças reutilizadas. Não há, porém, prazo para que isso aconteça.
O setor de seguros trabalha com essas duas perspectivas e se baseia nos resultados da experiência de São Paulo, onde uma lei estadual idêntica vigora há mais de um ano e rendeu resultados positivos. Mas as empresas alertam para a necessidade de fiscalização rigorosa, de forma que a medida se efetive e permita o desenvolvimento do mercado.
A projeção de queda no preço das apólices se sustenta na expectativa de redução de furtos e roubos de veículos, a partir do fechamento de desmanches clandestinos – o desmonte de automóveis passaria a ser feito por empresas cadastradas e supervisionadas. Espera-se que a carência de receptadores iniba a atividade criminosa e se reflita na precificação do seguro, pois o risco de sinistros entra no cálculo do custo do seguro.
Em São Paulo, a fiscalização fechou, em um ano, 671 desmanches irregulares, de 1.132 fiscalizados. O número de furtos e roubos caiu 11% e 25%, respectivamente, após a lei. Com isso, a Porto Seguro, por exemplo, baixou em até 10% o preço das apólices.
O impacto da esperada redução de crimes no Paraná, porém, deve variar conforme a região. Diretor de automóvel da HDI Seguros, Fábio Leme explica que, em cidades menores, fatores como risco de colisão são mais relevantes – logo, o barateamento deve ser menor. Ele afirma que, em cidades pequenas e médias, roubos e furtos respondem por até 45% dos sinistros da companhia – índice que sobe para 60%, no caso de municípios maiores.
Além disso, um eventual aumento no custo de outro item pode anular esse efeito. É o que está acontecendo com o valor de peças novas, segundo o diretor executivo da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), Neival Freitas. Ele diz que as despesas com esse elemento estão em alta e impedem, no caso de São Paulo, que haja redução significativa no valor das apólices.
Momento
A regulamentação da atividade de desmanche vem um momento em que o segmento de seguros enfrenta certa dificuldade, diante da queda na venda de veículos novos, que chegou a 20,7% no primeiro semestre deste ano.
O problema afeta o mercado de apólices, já que, conforme a FenSeg, cerca de 85% dos carros novos têm seguro . Embora o mercado de usados esteja aquecido, a adesão a esse produto é menor e incapaz de equilibrar o setor. “O mercado de seguros vem crescendo de 10% a 15% na última década. Mas, neste ano, os dados já indicam um crescimento de 9%. Descontando-se a inflação, o mercado não está crescendo, está caminhando de lado”, diz Bruno Garfinkel, diretor da Porto Seguro.