Anunciada pela presidente Dilma Rousseff no dia 8, a desoneração de tributos de produtos da cesta básica não teve impacto direto na inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), da Fundação Getulio Vargas (FGV). "De imediato, essas desonerações ainda nem de perto se fizeram sentir no índice", disse o coordenador nacional do IPC-S, Paulo Picchetti. O resultado do indicador na segunda quadrissemana de março, a primeira leitura que abrangeu a desoneração em vigor, mostrou avanço de 0,63% ante 0,52% na anterior. No grupo Alimentação, a taxa de variação no período ficou positiva em 1,39%, igual à registrada na primeira quadrissemana do mês.

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De acordo com o economista, há movimentos divergentes entre os produtos que foram beneficiados pela desoneração. "Há alguns subindo de preço, outros em queda, mas esses já vinham em queda por uma tendência própria dos seus mercados. Os efeitos da medida não estão nem um pouco claros, nem em termos de intensidade nem de tempo", afirmou Picchetti.

Todos os itens desonerados respondem por aproximadamente 4,5% do IPC-S, de acordo com a ponderação feita pelo economista. Se toda a redução de tributos anunciada fosse repassada integral e instantaneamente, a redução seria de 0,60 ponto porcentual. "Já passou uma semana e não temos nada muito claro. Pode acontecer alguma coisa ainda para frente, mas não é o que vimos logo de saída."

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O resultado do IPC-S desta quadrissemana fez com que o economista se definisse como "menos otimista". "Mas foi pouco tempo para ver quais serão esses movimentos todos", afirmou.

A dúvida quanto ao possível efeito da desoneração traz incertezas para a projeção da inflação em março. "Tem essa questão ainda de ter algum tipo de ameaça do Ministério da Fazenda de que, se o repasse não for dado, vai fazer alguma coisa que ninguém sabe o que é", disse Picchetti. "É algo muito importante para o governo nesse momento. Eles querem ver funcionar."

Produtos

Foram oito produtos desonerados pela presidente, que representam dez itens no IPC-S, já que as carnes estão subdividas em três grupos pelo economista. Carnes bovinas caíram 1,44%, mas já estavam em queda (1,1% na quadrissemana anterior). "Não dá para saber se é efeito da desoneração, por exemplo, ou intensificação da queda na continuidade do que vinha acontecendo", explicou Picchetti. Carnes suínas e pescados frescos, na mesma base de comparação, subiram 0,93% e 1,55%, respectivamente.

Café em pó estava subindo (0,19%) e na segunda quadrissemana de março apresentou variação de 0,01%, o que poderia coincidir com a desoneração. Já manteiga continuou em movimento de alta (0 60%), apesar de ter desacelerado do 1,81% na leitura anterior. Açúcar e óleo de soja continuaram em queda. O açúcar passou de -1,85% para -2,19%, aumentando a queda, enquanto óleo de soja foi de -1,13% para -0,92%, reduzindo a variação.

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Papel higiênico estava em 0,69% e acelerou para 0,86%, assim como sabonete, que subiu de 0,01% para 0,29%. Creme dental, que já vinha em queda, acentuou a deflação de -1,70% para -2,27%. "Há vários componentes que entram no preço e temos sinais contrários", afirmou Picchetti.