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Hoje, ao comprarmos auto­móveis, eletrônicos e viagens, compramos crédito. E é essa compra de crédito que o governo quer deixar mais cara, mais difícil.

Reunidos na torre negra, os membros do Copom subiram os juros mais uma vez! Por quê? Em última instância, o Copom é o responsável por controlar a inflação. O dragão amansado ora ressurge! Mas só o aumento da taxa de juros é capaz de controlar o aumento dos preços na economia? Não. A taxa Selic é o mecanismo mais evidente da política monetária, mas não está só. Para orquestrar a economia, o governo dispõe da política monetária, fiscal, cambial e de rendas.

Interessa-nos a política monetária. Aqui estão os instrumentos para controlar o dinheiro disponível no sistema econômico, ou seja, controlar a liquidez, a oferta de crédito. E os instrumentos tradicionais são a taxa Selic, o redesconto e o depósito compulsório. Ao estabelecer taxas de juros mais altas, como agora, o objetivo é diminuir a liquidez, tornar o dinheiro mais caro para desestimular o consumo, especialmente o consumo a prazo. Hoje, ao comprarmos automóveis, eletrônicos e viagens, compramos crédito. E é essa compra de crédito que o governo quer deixar mais cara, mais difícil. Se a taxa básica de juros da economia sobe, de pronto todas as outras sobem: a do cheque especial, do cartão de crédito, do consignado; as pessoas físicas pagam mais pelo direito de antecipar suas compras e as empresas pagam mais no desconto de duplicatas e em todas as operações de antecipação de recebíveis.

Outro instrumento é o redesconto. Esse passa mais longe das nossas finanças pessoais: é quanto o BC cobra para socorrer bancos com dificuldades de liquidez. Simplificando, se o BC "cobra barato" para fazer isso, os bancos são menos rigorosos na concessão de crédito; se o cliente não honra seus compromissos, os bancos recorrem ao BC para "fechar o caixa".

E o compulsório? Essa é a parcela dos depósitos em conta corrente retida no BC; se aumenta o porcentual de recolhimento, diminui a quantidade de dinheiro para os bancos emprestarem; o contrário é verdadeiro. Nova­mente, se os bancos precisam deixar "esterilizados" mais recursos no BC, menos dinheiro estará disponível para o crédito e os bancos passam a ser mais seletivos na concessão de crédito.

Para controlar a inflação, existem operações mais complexas, mercado futuro e swaps, por exemplo. E ainda há as medidas prudenciais; mas essas ficam para próximos textos.

Ana Paula Mussi Szabo Cherobim é professora de Administração da UFPR.

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