O primeiro semestre de 2014 não vai deixar saudade para os comerciantes brasileiros. Renda estável, inflação alta e economia andando de lado resultaram em meses de estagnação no varejo do país. O resultado só não foi pior por conta do Dia das Mães, tradicionalmente a segunda melhor data para o setor no ano, e pelas oportunidades que a Copa do Mundo gerou para alguns setores. E a segunda metade do ano não parece empolgar comerciantes e consumidores: índices de confiança do empresariado e de intenção de compra do consumidor chegaram ao pior registro dos últimos doze meses.
Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio, realizada pelo IBGE, dos cinco primeiros meses do ano que já contam com a sondagem consolidada, três deles registraram retração no volume de vendas do varejo. Fevereiro teve uma movimentação 0,1% mais fraca em relação ao mês anterior e março e abril fecharam com queda de 0,4%.
Os resultados são atribuídos, principalmente, à desaceleração da renda e à inflação, que fechou os primeiros meses do ano muito próxima ou superior ao teto da meta de 6,5% ao ano. "O aumento dos preços fez com que o varejo ficasse estagnado por uma boa parte do ano. Com isso, as pessoas só foram às compras, basicamente, no Dia das Mães e para aproveitar as liquidações pré-Copa", afirma o economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes.
Alívio momentâneo
Maio, por outro lado, já contou com um volume de vendas um pouco melhor, amenizando o que poderia ser um semestre catastrófico. Neste mês, o comércio fechou em alta de 0,5% em relação a abril.
Para a gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, Juliana Vasconcellos, o resultado positivo ainda não indica uma retomada. "Precisamos esperar mais algumas divulgações para fazer uma avaliação. O comércio é muito volátil", afirma. A média móvel trimestral, que minimiza resultados fora da curva, confirma esta sensação, já que ainda registrou queda de 0,1%.
Na opinião do diretor-geral da consultoria Gouvêa de Souza, Marcos Gouvêa de Souza, as vendas no segundo semestre devem manter um ritmo mais fraco. "Nada indica que possa haver, pelo menos até a eleição, uma reversão no nível de confiança do consumidor. O crédito se tornou bem mais restritivo e é de se imaginar que possamos ter ao longo do segundo semestre um varejo sem nenhum crescimento mais expressivo", completa.
Metade dos comerciantes prevê melhora
Metade dos comerciantes do estado prevê que o faturamento dos próximos seis meses será maior do que o registrado no segundo semestre de 2013, de acordo com a Pesquisa de Opinião do Empresário do Comércio, realizada pela Fecomércio-PR.
O índice, no entanto, é o menor já registrado pela sondagem, que teve início em 2009. Para a maior parte dos empresários, as principais dificuldades que abalam a confiança do setor no estado são o aumento da inflação, a elevada carga tributária e a clientela descapitalizada por conta do endividamento em alta.
Segundo a coordenadora de pesquisas da Fecomércio-PR, Priscila Andrade Takata, este é um ano atípico e as indefinições causadas pelo período eleitoral minam parte do otimismo dos empresários do setor. "Tradicionalmente as expectativas para o segundo semestre são mais baixas que para o começo do ano, mas com o passar dos meses e a aproximação do Natal esta percepção tende a melhorar", afirma.
Apesar do índice estar em queda, Priscila destaca que os empresários do setor não estão pessimistas, mas em estado de alerta. Exemplo disso é que 52% dos entrevistados pela pesquisa pretendem realizar investimentos até o final do ano e apenas 13% acreditam que terão que reduzir o número de postos de trabalho enquanto 66% esperam manter o mesmo número de funcionários e 16% acreditam que poderão contratar mais colaboradores efetivos.