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Curitiba – O impasse em torno da confirmação de um foco de febre aftosa no rebanho paranaense, na Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira (Norte do estado), é cercado de contradições e troca de acusações entre o governo do estado e o Ministério da Agricultura. O principal combustível dessa fogueira é a demora do governo federal – o responsável oficial pela apuração do caso – para chegar a um diagnóstico. Foram exatos 47 dias.

O governo do Paraná recusa o diagnóstico positivo e ameaça ir à Justiça contra o ministro Roberto Rodrigues. Embora autoridades e lideranças do setor agropecuário não declarem publicamente, há a desconfiança de que o ministério possa ter forjado o diagnóstico positivo. Alguns suspeitam que o laudo tenha sido feito sem ter por base qualquer exame. O indício mais forte para os defensores dessa tese foi gerado por um integrante do próprio ministério.

Na última terça-feira, dia 6, após a confirmação da aftosa, o coordenador do Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro) em Porto Alegre (RS), João Becker, negou, em entrevista ao jornal gaúcho Zero Hora, que tivesse feito qualquer exame com material do Paraná. Depois que a reportagem do jornal procurou a assessoria de imprensa do ministério, em Brasília, para esclarecer a questão, ele mudou a versão e confirmou os exames. No dia seguinte, o ministério divulgou o resultado dos testes, com data do dia 5, e assinado por Becker. A partir de então, ele não deu mais entrevistas.

Além do local onde o exame foi feito – até então o trabalho era realizado na unidade do Lanagro em Belém (PA), longe de áreas livres de aftosa, como recomenda a OIE –, a rapidez também gerou desconfiança. Entre a entrega de material pela Seab, em Belém, e a divulgação do resultado passaram-se apenas cinco dias. O advogado Ricardo Jorge Rocha Pereira, que representa o dono da Fazenda Cachoeira, disse que, quando as coletas de material foram feitas, os técnicos do ministério haviam prometido o resultado apenas para o início de janeiro.

Por outro lado, há setores produtivos do Paraná e do ministério que apontam precipitação do governo estadual ao anunciar a suspeita de aftosa, com base em sintomas apresentados por animais que foram trazidos de Mato Grosso do Sul, onde começaram a surgir focos da doença no início de outubro. O contraponto a essa situação seria São Paulo, que também faz divisa com Mato Grosso do Sul, recebeu animais daquele estado, mas apenas isolou as propriedades e monitorou a saúde daqueles bovinos.

O ministério, por sua vez, acusa o Paraná de ter atrasado em cinco dias a comunicação da suspeita de aftosa, ter realizado exames próprios, em laboratório não-autorizado pelo ministério, e enviar para exames material insuficiente, mal conservado e com informações incompletas. O vice-governador e secretário de Agricultura, Orlando Pessuti, confirmou a realização de exames sorológicos, sem isolamento do vírus da aftosa, mas disse que isso não fere as regras sanitárias internacionais.

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