Desde agosto do ano passado, quando o Banco Central deu início ao último ciclo de cortes na taxa básica de juros frente às perspectivas de uma inflação perigosamente fora dos índices estabelecidos, o órgão tem sido criticado e acusado de ter abandonado o regime de metas de inflação que é a base da busca pelo equilíbrio da economia brasileira desde 1999. Em sete reuniões, de agosto de 2011 a maio de 2012, o Comitê de Política Monetária (Copom) fez a taxa Selic cair 4 pontos porcentuais passou de 12,50% para 8,5%. Diante da enxurrada de liquidez que os países ricos vêm promovendo para combater a desaceleração econômica, no entanto, não só o Brasil mas outros emergentes têm optado por afrouxar o modelo, com atenção especial também à produtividade e à taxa cambial. Em resumo, a estratégia é de se admitir, sim, um crescimento menor em troca da manutenção dos empregos, da melhor estabilidade possível de preços à população e de se evitar a valorização da moeda.
Nem certo, nem errado
Em 13 anos, a inflação se aproximou do centro da meta apenas quatro vezes. Ainda assim, a adoção do regime de metas não é mesmo uma ciência exata, não é certa nem errada, é apenas uma escolha política em prol de determinado objetivo no caso, a estabilidade de preços. Em longo prazo, o grande objetivo do Banco Central com o regime é trazer o Brasil para perto das médias inflacionárias de outras economias emergentes, 3%.
Pesquisas já indicaram que entre os países ricos a adoção do regime de metas de inflação não influencia consideravelmente no crescimento das riquezas. Já entre os emergentes, aqueles que adotam o modelo apresentaram um crescimento menor que a média geral.
Para alguns economistas, inclusive o próprio presidente do BC, Alexandre Tombini, essa "maldição" do regime de metas de inflação para os países emergentes poderia ser combatida (ou remediada) com reformas e investimentos estruturais. É justamente aí que se encontram as controvérsias sobre o andamento da economia do país.
Para alguns analistas, o modelo de crescimento que baseia o regime de metas de inflação centrado na distribuição de renda, expansão do crédito, estímulo ao consumo, com juros elevados e câmbio agindo para conter a inflação está esgotado. "Modelos de crescimento puxado exclusivamente por consumo (com aumento do endividamento das famílias) têm vida curta", avalia o economista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Marcelo Curado. São os chamados "voos da galinha" da economia brasileira, que no momento colocam o setor industrial base para qualquer crescimento sustentável sob pressões contraditórias. "O estímulo à produção industrial é afetado de forma positiva pelo nível da taxa real de câmbio, mas de forma negativa pelo nível da taxa real de juros", diz o coordenador do Grupo de Análises e Projeções do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Roberto Messenberg.
Para os especialistas, o Brasil está dormindo no ponto e perdendo a hora de investir no combo rigor fiscal e infraestrutura, com foco, principalmente, no setor industrial.