O mercado de alimentos especiais e funcionais produzidos especificamente para quem possui alguma restrição alimentar, como intolerância ao glúten ou lactose, ou a necessidade de consumir menos sódio, açúcar ou mais fibras, por exemplo cresce três vezes mais que a movimentação dos produtos convencionais. Enquanto o crescimento da indústria de alimentos tradicionais está entre 3,5% e 4% ao ano, o setor de alimentos especiais chega a taxas entre 10% e 11%, no mesmo período, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos Dietéticos e para Fins Especiais (Abiad).
Ainda segundo a entidade, o mercado nacional dos alimentos incluídos nas categorias de light e diet faturou R$ 8,7 bilhões em 2010. "Nas últimas duas décadas, tivemos um aumento considerável, porque estes alimentos se popularizaram, passaram a ser vistos como aliados na qualidade de vida", explica o presidente da Abiad, Carlos Eduardo Gouvêia.
O otimismo entre as indústrias do setor contrasta com a sensação do consumidor de que alguns produtos ainda custam muito mais que seus equivalentes que contêm os ingredientes "proibidos". Gouvêia explica que alguns produtos light e diet têm preço semelhante ao do alimento tradicional porque já alcançaram escala e volume suficientes. "Se os alimentos especiais são mais caros, este fenômeno é compreensível. No lançamento, o preço sempre vai ser maior, porque o mercado precisa entender o comportamento e a procura, para depois, gradativamente, chegar ao preço compatível com o dos alimentos convencionais", avalia.
Ainda conforme dados da Abiad, o mercado de produtos diet e light está bem fortalecido, enquanto o de alimentos funcionais e para intolerantes ou alérgicos a determinadas substâncias ainda registra crescimento gradativo. A associação aponta que, no mundo, os alimentos fortificados e sem glúten, lactose e ovos (maiores causadores de alergias) movimentam US$ 176 bilhões.
Em Curitiba, a empresa Beladri produz, há cinco anos, opções de pães, biscoitos e massas que não contêm açúcar, glúten, ovos ou leite. A proprietária, Luciene Belzunces, explica que o preço é mais caro em média 30% mais que os produtos convencionais porque a escala de produção é pequena e a produção ainda é manual. "Além desses fatores, as matérias-primas que usamos são muito mais caras e, enquanto uma padaria normal compraria 4 toneladas de um produto, nós compramos apenas 400 quilos", justifica.
Luciene conta que a loja da Beladri tem um lucro mensal de R$ 22 mil. "Nossas proporções correspondem a cerca de 5% do que é uma panificadora convencional", diz. Além disso, de acordo com a proprietária, há muito desperdício de matéria-prima em testes. "Nada é mais barato que trigo e ovo, mas nós temos de produzir alimentos igualmente gostosos, só que com outros produtos", descreve.
Vocação criada pela necessidade
Há oito anos, quando Isabel Hirata recebeu um diagnóstico de intolerância à lactose, sua família começou a pesquisar sobre o mercado de produtos especiais. Sem encontrar opções, uniu a necessidade pessoal à oportunidade profissional e hoje é uma das proprietárias da Kalloria Zero, no Mercado Municipal de Curitiba. "Fomos pioneiros na capital, não havia outra loja que oferecia esses produtos", recorda.
Isabel diz que, quando decidiu iniciar as vendas, tinha poucos fornecedores e muitos clientes. Desde então, o número de fornecedores triplicou, mas o preço dos produtos continua alto. "Não conseguimos ver muita diferença no valor dos produtos para comprar, e isso influencia o valor da venda", justifica.
"Você acaba pagando caro por algumas coisas que chegam a ser intragáveis", admite a artista plástica Sandra da Silva Maciel, que descobriu a intolerância ao glúten há seis anos. Sem conseguir se acostumar com o gosto e o preço dos produtos que não levam trigo, ela decidiu preparar os próprios alimentos. Para economizar, ela passou a comprar ingredientes e preparar pães, pizzas e bolos.
A cozinha da casa de Sandra é exclusiva para as receitas sem glúten, pois não pode haver nenhum tipo de contaminação. "O trigo fica no ar, então o que leva trigo ou glúten tem de chegar aqui pronto", explica. De acordo com ela, preparar alimentos em casa fica cerca de 30% mais barato que comprar produtos prontos.