Dez anos de negociações, milhares de horas de reuniões, milhões de dólares gastos para promover encontros e viagens de diplomatas, discursos e, finalmente, uma constatação alarmante: pelo menos hoje, as diferenças de posição entre os países na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) são "insuperáveis" e o processo está "seriamente ameaçado". Ontem, o diretor da entidade, Pascal Lamy, publicou o que seria um rascunho do acordo comercial mais ambicioso da história, com mais de 600 páginas.
Mas no lugar de apontar um potencial entendimento, o documento revelou a profunda "fratura política" existente entre Estados Unidos, de um lado, e Brasil, China e Índia de outro. Isso mesmo diante das repetidas declarações do G-20 (o grupo das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia) pedindo a conclusão da rodada em 2011.
Para experientes diplomatas em Genebra, a crise é um reflexo da transição para um novo equilíbrio de poder que se estabelece no mundo, com os emergentes passando a assumir um novo papel. Em Doha, há dez anos, essa realidade não estava clara. Hoje, a China é o maior exportador do planeta, a Índia potencialmente o maior mercado e o Brasil, o terceiro maior exportador agrícola.
Americanos querem que os três emergentes deixem de ser tratados como países pobres e façam concessões, abrindo seus mercados em expansão. Lamy, em seu texto, indica que Washington e Bruxelas consideram a atual negociação como "a última chance de equiparar" as tarifas de importação dos emergentes e dos ricos. Só no caso do Brasil, isso significaria levar a zero mais de 3 mil tarifas.
Do outro lado, China, Brasil e Índia se recusam a aceitar as exigências impostas pelos Estados Unidos, alegando que ainda têm desafios sociais importantes e que não renunciarão ao status de país em desenvolvimento.
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