Pedro Basso, proprietário da Fredericos Refeições, de Araucária: empréstimo de cooperativa possibilitou mudança de casa e ampliação dos negócios| Foto: Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo

Planejamento ajuda a prever necessidade de caixa

Nem sempre dinheiro é a solução para uma empresa crescer. Para não precisar correr ao banco, o empresário deve elaborar um planejamento de negócios que vai ajudar a identificar os momentos em que serão necessários mais ou menos recursos e assim buscar os melhores produtos oferecidos pelo sistema financeiro.

Linhas de crédito alternativas ou subsidiadas do governo federal, via agências de fomento, oferecem juros mais amigáveis e têm outra política de avaliação do empresário. Fundos de aval, sociedades garantidoras de crédito e cooperativas são exemplos de instituições financeiras que também têm capital para empréstimo, mas exigem comprometimento do empresário quanto à sua capacitação.

Uma mudança recente na gestão da Fomento Paraná, por exemplo, transformou o perfil dos recursos liberados para o setor privado nos últimos anos. A instituição oferece linhas de crédito ao pequeno empresário, como o Microcrédito, para financiamento de até R$ 15 mil para pessoas jurídicas. A agência tem contratos com limite de até R$ 3 milhões. De acordo com o Sebrae-PR, o tíquete médio de empréstimos do segmento de PME é de R$ 30 mil a R$ 40 mil.

Cartão BNDES

Outra instituição que tem linhas mais baratas para negócios é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O cartão BNDES, inclusive, é considerado pelas consultorias especializadas um dos avanços no mercado de crédito para micro e pequenas empresas. Mas mesmo nessa via de crédito subsidiado, a maior fatia do bolo ainda está nas mãos das grandes, que registraram crescimento de 23% no volume de recursos liberados no primeiro quadrimestre de 2014, em relação ao mesmo período do ano passado.

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Crédito via cooperativa alavancou negócios

Com 25 anos de funcionamento, a Fredericos Refeições ocupa, desde 2010, uma área de 1 mil metros quadrados em Araucária. Atende 70 empresas diferentes, onde entrega 5 mil refeições prontas por dia, contra as 2 mil antes da mudança de casa. Mas o investimento na nova unidade só foi possível depois de um empréstimo no Sicoob de Araucária. "Se tivesse dinheiro, teria feito a ampliação antes", diz o empresário Pedro Basso.

Ao longo de dez anos, Basso investiu na ampliação do negócio, levantando capital próprio para compra do terreno onde construiria a nova sede. Quando partiu para financiar a obra, tinha 40% dos recursos necessários, e outro status no mercado. "Consultei bancos privados, mas só tinham linhas de crédito mais altas e com maior prazo", diz.

Menos de 1% dos empresários e microempreendedores individuais (MEIs) ouvidos pelo Sebrae-SP afirmaram ter recorrido a empréstimos bancários para abrir seus negócios. A grande maioria – 88% – usou recursos próprios para começar suas empresas. A pesquisa ouviu 2008 pessoas, que formalizaram empreendimentos entre 2007 e 2011, e dá uma amostra da dificuldade do micro, pequeno e médio empresário em conquistar parte do bolo de crédito que bancos e instituições financeiras colocam à disposição.

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INFOGRÁFICO: Falta de capital é o principal problema das Micro, Pequenas e Médias Empresas

Levantamento realizado pelo Serasa Experian a partir de balanços dos bancos Itaú Unibanco, Santander, Bradesco e Banco do Brasil mostra que a participação das pequenas e médias empresas (PMEs) no volume de dinheiro emprestado para pessoas jurídicas caiu de 43,4% no primeiro trimestre de 2011 para 38% no mesmo período de 2014. "Historicamente, o pequeno empreendedor tem muita dificuldade em acessar o crédito. Há uma assimetria de informações, entre o que a pequena empresa consegue comunicar ao banco e o que a instituição exige para avaliar a sua capacidade de endividamento", explica o consultor Flávio Locatelli Junior, do Sebrae-PR.

Além das questões burocráticas – a empresa não tem balanço, mas pode apresentar um relatório comercial –, o pequeno empresário sofre com a falta de garantias para acionar financiamentos convencionais. Em muitos casos, o descompasso dá a tônica do interesse entre bancos e empresários. A empresa precisa sacar mais do que o seu faturamento permite, o que, para o banco, é um sinal de risco. E nem sempre o limite do empréstimo é suficiente para o investimento que se pretende. Sem esse equilíbrio entre receita e capacidade de pagamento, a instituição financeira se retrai e prefere fechar a porta para quem não tem garantias.

Inadimplência

O alto índice de inadimplência também complica a ficha do candidato ao empréstimo. Dados do Banco Central de dezembro de 2013 sobre o não pagamento dos compromissos entre grandes e pequenas mostram que a taxa de calote das primeiras é de 0,32%, contra 3,35% das menores.

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O cenário econômico é outro fator que contribui para a restrição do crédito. Volume de negócios reduzido, inadimplência da clientela e falta de capital de giro para dar fluxo no caixa empurram os empresários para a mesa do gerente, mas os bancos privados são os primeiros restringir recursos.

A situação levou o BC a tomar medidas para estimular o setor. Há dez dias, a autoridade monetária nacional mudou as regras do recolhimento do compulsório, para ampliar o montante para empréstimos que as instituições financeiras têm disponível. A expectativa é que a medida libere R$ 30 bilhões no mercado de crédito.

Alternativas caras

Diante de tantas dificuldades, o empresário acaba recorrendo a modalidades de crédito mais caras, como antecipação de recebíveis ou o limite do cheque especial ou do cartão de crédito, quando a falta de dinheiro é mais urgente. "E esse movimento detona o círculo vicioso, de buscar dinheiro caro, mais difícil de pagar, que leva à inadimplência e só aumenta o problema", explica o consultor Flávio Locatelli Junior, do Sebrae-PR.

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