Após uma manhã turbulenta nos mercados, com as crises na Argentina e na Turquia aumentando as preocupações dos investidores com os mercados emergentes, as declarações da presidente Dilma Rousseff em Davos conseguiram amenizar as desconfianças em relação ao Brasil hoje.

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Apesar disso, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 0,29%, a R$ 2,402, e renovou o maior valor desde 22 de agosto do ano passado, quando a moeda encerrou a R$ 2,430.

O dólar comercial, que chegou a atingir nos primeiros negócios R$ 2,433 maior patamar desde o dia 21 de agosto, quando a moeda americana fechou a R$ 2,451, inverteu a tendência no final do pregão e fechou com baixa de 0,24%, a R$ 2,397.

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Na opinião de analistas ouvidos pela reportagem, as declarações da presidente Dilma Rousseff no Fórum Econômico Mundial hoje ajudaram a conter preocupações dos investidores com o Brasil.

Em discurso, ela afirmou que o controle da inflação e o equilíbrio das contas públicas são "requisitos essenciais para assegurar a estabilidade econômica".

"A estabilidade da moeda é hoje um valor central do nosso país, da nossa nação", completou a presidente. Para Dilma, são precipitadas as análises de curto prazo que apontam um declínio dos mercados emergentes após a retomada do crescimento nos países desenvolvidos.

As declarações ocorrem em um contexto de crise cambial na Argentina, país cujo banco central anunciou que não fará mais intervenções para conter a desvalorização da moeda local, o peso argentino, e de inquietação política na Turquia, com o governo promovendo reformas para barrar um escândalo de corrupção que atinge órgãos oficiais.

Para Tatiane Cruz, gestora da corretora Coinvalores, as declarações de Dilma ajudaram os investidores a perceberem que, embora pertencentes ao mesmo bloco de emergentes, cada país tem características diferentes e uns estão melhores que os outros.

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"O Banco Central tem US$ 376 bilhões de reservas e não teve que gastá-las para conter a desvalorização do real. Temos um colchão muito maior que a Argentina, que possui apenas US$ 29 bilhões. Além disso, com os juros a 10,50% [taxa Selic], os investidores pensam em pegar dinheiro em lugares que remuneram menos, com o Chile, e aplicar na renda fixa no Brasil, que tem um juro atrativo", afirma.

No entanto, segundo Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, as recentes intervenções do governo brasileiro na economia ajudam a reforçar as preocupações dos investidores.

"Pelo fato de o governo ser intervencionista o pessoal começa a traçar paralelos com as atitudes de [Cristina] Kirchner na Argentina e com o [Nicolás] Maduro da Venezuela. Os investidores têm medo de que o Brasil adote a mesma política", diz.

Uma das medidas que intensificou esse temor entre os investidores foi a decisão do governo de elevar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de cartões pré-pagos e cheques de viagem, entre outros. "Isso cerceia a liberdade de a pessoa ir para o exterior e comprar dólar para gastar", ressalta.

Pesam ainda sobre o dólar a expectativa em torno do corte de US$ 10 bilhões -de US$ 75 bilhões para US$ 65 bilhões- que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) poderá fazer no programa mensal de recompra de títulos públicos já na reunião da próxima semana.

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Nesta sessão, o BC deu continuidade às intervenções diárias vendendo a oferta total de 4.000 contratos de swap tradicionais -equivalentes à venda futura de dólares- com vencimento em 1º de setembro. A autoridade monetária também ofertou swap com vencimento em 2 de maio, mas não vendeu nenhum.

O Banco Central realizou ainda a sétima etapa de rolagem dos swaps que vencem em 3 de fevereiro, vendendo a oferta total de 25 mil contratos. Com isso, já rolou pouco menos de 80% do lote total, equivalente a US$ 11,028 bilhões.

Bolsa

A Bolsa brasileira conseguiu estancar a desvalorização sofrida ao longo do pregão, quando chegou a cair 1,7%, mas fechou em baixa superior a 1%, alinhada com os Estados Unidos e as demais Bolsas mundiais.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, caiu 1,10%, a 47.787 pontos. Na semana, o índice teve queda de 2,83%, e no mês acumula baixa de 7,22%.

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Para Tatiane Cruz, da Coinvalores, a desvalorização da Bolsa hoje seguiu a tendência mundial de preocupação com os emergentes. "Com a recuperação da economia americana, os investidores saem de renda variável, não só dos emergentes, e correm para títulos do governo americano, considerados os mais seguros do mundo", diz.

A maior perda na sessão de hoje foi registrada pela Brookfield, cujas ações se desvalorizaram 6,06%. "As construtoras são empresas mais arriscadas nesse cenário de juros em alta, pois suas dívidas são atreladas à Selic. Além disso, com o crédito mais caro as pessoas ficam mais temerosas para comprar imóveis", diz.

As ações da Petrobras ajudaram a empurrar a Bolsa para baixo hoje. Os papéis preferenciais da petrolífera (os mais negociados) caíram 2,39%, a R$ 15,10, e os ordinários (com direito a voto) tiveram baixa de 2,56%, a R$ 14,08.

Na contramão do mercado, as ações da Vale, bastante castigadas durante a semana, subiram hoje. Os papéis preferenciais da mineradora tiveram alta de 1,71%, a R$ 28,63. Os ordinários registraram valorização de 1,03%, a R$ 31,25. Na semana, porém, os papéis da empresa tiveram queda de 4,63% e 3,82%, respectivamente.

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