Depois de se encontrar com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e com o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, a presidente Dilma Rousseff se recusou a tomar partido entre a defesa de alemães ou gregos, que divergem frontalmente quando o assunto é austeridade fiscal. A presidente se recusou a falar se, em tempos de ajuste fiscal, se identifica mais com a política de rigor orçamentário de Berlim ou com a esquerda radical no poder em Atenas.
Dilma se encontrou com Tsipras em seu hotel na manhã desta quinta-feira, 11, em uma bilateral que se estendeu por mais de meia hora. A reunião aconteceu no momento em que o premiê está no olho do furacão, atraindo as atenções políticas e da imprensa em toda a Europa, pelo risco de que a Grécia vá à falência e deixe a zona do euro e a União Europeia. No final do encontro com Dilma, ele não quis falar aos jornalistas.
Menos de duas horas depois, Dilma encontrou-se com Merkel na sede do Conselho Europeu. A chanceler, cristã-democrata e de direita, é a artífice da austeridade fiscal que vigora na União Europeia - a política contra a qual Tsipras, um radical de esquerda, se levanta neste momento.
Entre uma e outra visão ideológica, Dilma preferiu ontem ficar em cima do muro. Questionada pelo Estado sobre com quem se identifica mais, a presidente escapou pela tangente. “É o tipo da pergunta que eu não responderei, porque é absolutamente estranha. Eu vou me aproximar de algum chefe de Estado mais do que de outro? Jamais!”, disse, referindo-se aos dois chefes de governo. “Eu represento o Brasil. Tenho relações bastante estreitas com a Alemanha, e também tenho relações com a Grécia.”
Sobre com qual visão econômica, da Alemanha ou da Grécia, se considera mais próxima, Dilma de novo preferiu ficar em cima do muro. “Não vou falar de visão econômica de países”, reclamou.
Na reunião com a Grécia, o principal tema foi a crise pela qual Atenas atravessa. Mas, ao comentar o diálogo, Dilma não se furtou a advertir para o risco do “excesso de austeridade”. “Nós sabemos como é duro: nós ficamos 20 anos sem crescer”, disse. “Todas as medidas de austeridade implicam dois lados. Um lado é não impor um ajuste que quebre o país. Nós temos a experiência do que aconteceu quando a Argentina teve aquele problema no final da década de 1990, início dos 2000.”
Para Dilma, é preciso moderar a amplitude de um ajuste fiscal para não comprometer o desempenho econômico de um país. “Se você não cria as condições para o país transitar a situação de estabilidade, se você pesar a mão, você quebra o país”, argumentou. “De outro lado, o país tem de fazer o seu esforço, fazer a sua parte. Eles estão justamente discutindo o equilíbrio entre esses dois eixos.”
Já o encontro com Merkel serviu para projetar mais negócios entre os dois países. A chanceler visitará o Brasil, acompanhada de ministros de Estado, no segundo semestre. “O Brasil passa a ser uma parceiro especial, porque esta visita de alto nível é feita com poucos países”, congratulou-se. Entre os temas que mais interessam o governo brasileiro, está a ampliação do comércio bilateral, a eficiência da indústria alemã e o desenvolvimento tecnológico, científico e a formação técnica e profissional. “A indústria alemã se caracteriza por uma grande expertise na área de inovação, chão de fábrica, e pela capacidade de ter uma indústria de alta qualidade e precisão”, elogiou, reconhecendo: “Nos interessa isso”.
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