A presidente Dilma Rousseff enviará até o fim de março ao Congresso a medida provisória que cria a Secretaria Nacional de Aviação Civil, com status de ministério. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, ela afirmou que prepara uma "forte intervenção" nos aeroportos do país. O plano incluirá a privatização de novos aeroportos e terminais.
Os aeroportos são considerados um dos principais gargalos de infraestrutura no país. Além do crescimento do mercado interno, há preocupação com a Copa de 2014 e os Jogos Olímpícos de 2016. Dilma afirmou ainda que o governo fará a ampliação de aeroportos com recursos públicos e organiza concessões ao setor privado. Como exemplo de concessões, citou a construção de novos terminais ou novos aeroportos. "Não temos preconceito contra nenhuma forma de expansão do investimento nessa área, como não tivemos nas rodovias", disse.
Ela afirmou que a construção de aeroportos por concessão pode funcionar como a de hidrelétricas. Dilma disse ainda que o Brasil precisa de mais aeroportos regionais, para desafogar capitais e grandes centros.
Críticas
Na terça-feira, o presidente da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), Giovanni Bisignani, afirmou que a gestão aeroportuária brasileira é um modelo falido. Segundo ele, há gargalos em 13 dos 20 maiores aeroportos, e a situação é "crítica" em São Paulo, onde Bisignani vê defasagem e ineficiência. Apesar de avaliar que Dilma Rousseff acerta ao dar prioridade estratégica ao setor e promover mudanças estruturais, a Iata não poupou críticas também ao controle de tráfego aéreo, para o qual faltariam investimentos para acompanhar a evolução tecnológica dos aviões.
O presidente da Iata fez a análise em palestra na Câmara de Comércio Britânica. "O modelo Infraero, que controla 94% dos aeroportos brasileiros, está falido. Treze dos 20 maiores aeroportos têm engarrafamentos nos terminais de passageiros. Em São Paulo, que maneja 25% do tráfego brasileiro, o estado é crítico. O slots não estão disponíveis quando são necessários. Os terminais são antigos e ineficientes. E nos preocupamos com a falta de um processo transparente nos planos para um terceiro terminal", disse Bisignani.
No caso do controle de tráfego aéreo, que enfrentou uma crise após o acidente da Gol em 2006, a Iata considera que falta apoio do governo federal para os esforços de modernização da FAB. "As empresas aéreas investiram em sistemas eletrônicos para promover a eficiência de voo. Mas não podemos ter retorno completo no nosso investimento até que o controle de tráfego aéreo opere na mesma plataforma tecnológica", disse.
A preparação da infraestrutura aeroportuária também preocupa as empresas aéreas, que pleiteiam participação nas ações do governo. A Iata afirma poder colaborar por meio de seus programas de eficiência de embarque, manejo de cargas e segurança aérea. "Qualquer um que chegar a São Paulo por um voo internacional tem uma boa chance de ter uma péssima primeira impressão. A espera de até uma hora e meia na imigração e alfândega resume tudo. A infraestrutura não está pronta. E o tempo está se esgotando para os grandes projetos", resumiu Bisignani.