As dívidas de custeio e investimento acumuladas pelos produtores agrícolas nas duas últimas safras podem ser renegociadas com os bancos até 31 de outubro. O prazo, que venceria hoje, foi adiado por um mês pelo Conselho Monetário Nacional, apesar de 93% dos pedidos de renegociação já terem sido atendidos. Na prática, a ampliação do prazo põe à disposição R$ 1 bilhão a mais para a agricultura, como incentivo ao cultivo da próxima safra.
O governo federal tenta animar a agricultura com oferta 37% maior de recursos para custeio, investimento e comercialização, na comparação com as verbas destinadas à safra 2005/06. O Banco do Brasil deve atingir esse porcentual com a liberação de R$ 7 bilhões em outubro, somando R$ 12 bilhões em quatro meses.
Além desse quadro favorável ao cultivo, os financiadores lançam previsões otimistas sobre a rentabilidade e o mercado. No entanto, o setor agrícola diz que a situação é menos animadora do que parece.
"A renegociação das dívidas é apenas um paliativo para que os agricultores continuem na atividade. Eles sabem que vão precisar de mais de uma safra para se recuperar da crise dos últimos três anos", afirma o economista Jefrey Albers, da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep). No Paraná, a expectativa é de que todos os 70 mil contratos devolvidos aos bancos em julho sejam repactuados dentro do novo prazo (31 de outubro).
Até o último dia 27, o Banco do Brasil tinha negociado 92,2% dos casos no estado e 93% em âmbito nacional. Em todo o país, os agricultores devolveram 247 mil contratos. Os casos já repactuados somam cerca de R$ 5 bilhões e os que ainda serão negociados, R$ 1 bilhão. O Paraná já renegociou cerca de R$ 1 bilhão e deve rever outros R$ 200 milhões.
Os R$ 7 bilhões a serem liberados em outubro mês decisivo para o plantio foram anunciados pelo Banco do Brasil como mais uma indicação de que a próxima safra será lucrativa. A instituição deve liberar sozinha R$ 33 bilhões dos R$ 60 bilhões previstos no Plano de Safra 2006/07 do governo federal. O economista Albers observa, no entanto, que a safra não depende só de financiamento, mas também de fatores decisivos como a produtividade e o preço do dólar.
O diretor de Agronegócios do Banco do Brasil, Ricardo Conceição, argumenta que a redução nos custos abre a retomada do crescimento da agricultura brasileira. O banco acredita que a queda nos preços dos insumos vai abater os custos de produção em 20,3% em relação à safra 2005/06.
Esse porcentual, porém, é contestado pelo analista da Faep. "Alguns insumos realmente caíram. Estão 12% abaixo do que no plantio da safra passada. Mas outros custos estão mais caros, como a mão-de-obra e o diesel. Ainda estamos trabalhando em cálculos, mas acredito que a queda nos custos de produção não vai chegar a 10%."
Financiadores e produtores discordam ainda em relação às previsões sobre o câmbio. Enquanto os bancos alegam que a tendência é de estabilidade, os agricultores temem que a moeda norte-americana continue em queda e que os preços de produtos como a soja estejam baixos na colheita, daqui a seis meses.
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