O saque de contas inativas do FGTS deve dar um pequeno impulso ao consumo das famílias e, consequentemente, ao crescimento da economia. O “empurrão” não será mais forte porque parte do dinheiro tende a ser direcionada para o pagamento de dívidas e, no caso dos trabalhadores com saldos mais altos, para aplicações financeiras.
O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e a equipe econômica do banco Santander, que antes esperavam crescimento zero para o consumo das famílias neste ano, contam agora com um avanço de 0,4%. Para o Santander, o “efeito multiplicador” desse gasto deve estender o impacto do dinheiro do FGTS até o ano que vem, quando pode elevar o consumo em mais 0,3%.
São números pequenos mas não desprezíveis, dada a penúria da economia brasileira. Responsável por dois terços do Produto Interno Bruto (PIB), o consumo vem de dois anos de forte queda: recuou 3,9% em 2015 e 4,5% no ano passado, segundo estimativa do Ibre/FGV.
Com um leve aumento nessas despesas, a economia toda também deve crescer. Mas, por enquanto, Ibre/FGV e Santander mantiveram suas projeções para o PIB. O primeiro prevê crescimento de 0,3%, “com viés de alta” graças ao dinheiro do Fundo de Garantia. O segundo planejava revisar para baixo sua projeção de 0,7% em razão de indicadores ruins, mas diz que o saque do FGTS “neutralizou” esse efeito.
O governo estima que os trabalhadores vão resgatar cerca de R$ 30 bilhões de um total de R$ 41 bilhões que, segundo o Planalto, estão depositados nas contas inativas até 31 de dezembro de 2015, que serão liberadas para saque. Os valores são controversos, bem superiores ao saldo reportado pelo balanço anual do FGTS.
Se a estimativa do governo estiver correta, representa um reforço considerável – ainda que temporário – ao orçamento das famílias. A consultoria Tendências estima que a massa de renda das famílias brasileiras diminuiu R$ 77 bilhões em 2016. O dinheiro do FGTS ajudaria a repor parte dessa perda.
“A injeção dos cerca de R$ 30 bilhões na conta corrente das famílias ainda no primeiro semestre implicará um aumento de seu consumo não antevisto em nossas projeções anteriores”, avalia a equipe de conjuntura do Ibre/FGV.
Destinação
Embora cheguem a projeções semelhantes de impacto do dinheiro do FGTS, Ibre e Santander partem de premissas diferentes. O Ibre supõe que os brasileiros vão gastar metade dos R$ 30 bilhões que devem sacar: “Tendo em vista a estrutura de preferências dos consumidores, é provável que parte dos recursos, que poderiam ser direcionados para quitar dívidas, seja alocada para consumo corrente”.
O Santander, por sua vez, acredita que todos os R$ 41 bilhões disponíveis serão resgatados, e que grande parte servirá para pagar dívidas ou será reinvestida.
“O governo crê que 70% do saldo será sacado, conforme o padrão histórico. Mas consideramos a situação atual bastante atípica, com mercado de trabalho deprimido, alto endividamento das famílias e aperto no crédito. É isso que nos leva a supor que 100% do saldo será sacado”, diz o economista Rodolfo Margato.