Mudando o foco de economia para política, o ex-ministro da Fazenda Paulo Guedes discorreu a atual polarização brasileira em nova transmissão na internet do MBA Macroeconomia & Portfolio Management, lançado em parceria com o Grupo Primo, do influenciador financeiro Thiago Nigro.
Para além da divisão entre esquerda e direita, Guedes defendeu para sua plateia virtual de alunos a necessidade de sair da "barbárie" para alcançar o que ele chama de "sociedade aberta do futuro". A polarização, para ele, não é o melhor caminho para a prosperidade.
O titular da Economia no governo de Jair Bolsonaro defendeu respeito à democracia e o direito à crítica, observando que a direita precisa ter espaço para falar sem sofrer censura e perseguição.
Baseando seu raciocínio no filósofo Karl Popper, autor do livro A Sociedade aberta e seus inimigos, Guedes explicou a longa historia de cooperação das sociedades em busca da evolução, demonstrando que os pilares da prosperidade são a democracia e economia de mercado.
"Adam Smith [pai do liberalismo moderno] não inventou a economia de mercado, apenas observou o que já existia. Não inventou o capitalismo para explorar os trabalhadores e todo o blábláblá da 'sociologia da miséria' criada por [Karl] Marx. A trajetória de nossa evolução mostra que, quanto mais capital e tecnologia, aliada a democracia, mais riqueza e prosperidade", disse Guedes.
No pilar da evolução politica, Guedes partiu dos ideias da Revolução Francesa de "liberdade, igualdade e fraternidade" para explicar o surgimento da concepção moderna de direita e esquerda – os revolucionários de esquerda contra os conservadores de direita.
Os ideias revolucionários correram o mundo e culminaram nas ditaduras do século 20, nos dois lados do espectro político. De Mao Tse Tung , Stalin até as atuais ditaduras da Venezuela e Coreia do Norte, do lado esquerdo. E de extrema direita, como Hitler, na Alemanha, uma reação ao Movimento da Internacional Socialista, à esquerda, que pregava a união dos trabalhadores do mundo contra o poder estabelecido.
"Hitler fez a união dos empresários alemães, mas com fundamentos socialistas, tanto que criou o Partido Nacional Socialista dos trabalhadores germânicos. Eram extremistas de um lado e de outro, ditaturas chamadas 'fascistas', de direita, e 'comunistas', de esquerda", afirmou o ex-ministro.
Contrapondo a evolução nos dois espectros, Guedes mostrou que a esquerda caminhou para a socialismo, que quer a transformação do sistema dentro dos ideias revolucionários, mas por métodos civilizados. Da parte da direita, estão os conservadores, que convivem com as diferenças, mas não querem mudar a ordem estabelecida. "Ambos, porém, acreditam na democracia", explicou.
Fazendo uma metáfora com a ferradura, o ex-ministro mostrou a proximidade entre sociais- democratas, à esquerda, e liberais-democratas, à direita, ambos próximos ao centro. Eles convergem para a centralidade onde está, segundo Popper, a sociedade aberta do futuro.
A diferença entre eles, explicou Guedes, é o peso do Estado na economia: ambos acreditam na democracia, no valor civilizatório, mas o liberal-democrata sabe que a chave da prosperidade está no livre mercado.
Nas sociedades mais avançadas, ponderou o ex-ministro, a divisão entre esquerda e direita é mais branda – caso da Inglaterra, onde liberais e conservadores se alternam no poder sem tanto impacto na vida do país.
Para Guedes, a profunda polarização do Brasil e o fosso entre a esquerda e direita fazem parte de uma etapa de transição. "Não há esperança de ter paz e prosperidade com tanta divisão. Nunca defendi essa visão do conflito, de extremos, onde um parte pra cima do outro", ressaltou.
Para chegar à parte de cima da ferradura, da grande sociedade aberta defendida por Popper, Guedes acredita que é preciso ter uma visão dinâmica da sociedade, como demonstra a evolução milenar desde as sociedades tribais primitivas em direção a democracia, sempre se aperfeiçoando.
"Neste sentido, não sou um conservador, que tem uma visão estática da sociedade", afirmou. Ele frisou porém, que conservadores e liberais estão juntos, em lado oposto aos socialistas: "Participei de um governo de aliança entre liberais e conservadores".
Sobre a trajetória política do Brasil desde a ditadura, o ex-ministro ressaltou que o processo de redemocratização foi capitaneado pela esquerda, levando à eleição de Tancredo pelo Congresso, e ao governo Sarney. Os erros absurdos no combate à hiperinflação, especialmente com o Plano Cruzado, culminaram na subido ao poder de um governo de direita na primeira eleição direta do país após a ditadura. "Collor, no entanto, não teve sustentação e cometeu o erro de congelar ativos e desagradar toda sociedade brasileira", lembrou Guedes.
Desde então, fomos sempre andando em "círculos à esquerda". O Plano Real foi bem sucedido, mas a reeleição de Fernando Henrique comprometeu as politicas fiscais pelos gastos excessivos. "Houve uma reação para um governo focado na economia de mercado mas com muito barulho", disse o ex-ministro.
Para ele, hoje o arco politico do Brasil está mais sofisticado – estamos caminhando no arco da ferradura. O desafio, segundo Guedes, é a retomada do crescimento em bases sólidas, com atenção ao social, mas com responsabilidade fiscal e monetária, respeito à propriedade privada, autonomia do Banco Central e outros parâmetros civilizatórios, sobretudo com respeito à democracia e direito à crítica.
"A direita precisa ter espaço para falar e mostrar o que considera errado, sem sofrer censura e perseguição", finalizou.
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