O diretor de política econômica da autoridade monetária, Altamir Lopes, fez nesta segunda-feira (22) uma dura cobrança ao governo sobre o ajuste nas contas públicas. Ele afirmou que é importante dissipar as incertezas sobre as trajetórias das variáveis fiscais para 2016. A declaração foi dada durante o evento “Brazil Macro and Political Conference”, promovido pelo JP Morgan, segundo discurso divulgado no site do BC.
“Ressalto que uma eventual postergação dos ajustes adiaria o início da recuperação econômica, ampliando a incerteza, a perda de confiança, adiando investimentos, aprofundando a queda da atividade e tornando o próprio ajuste mais prolongado e custoso. No limite, os fundamentos da economia brasileira poderiam ser comprometidos”, afirmou.
Segundo o diretor, o ajuste fiscal é de suma importância para recompor o colchão fiscal consumido pela implementação de políticas anticíclicas, concebidas para atenuar os efeitos contracionistas da crise. “Destaco a importância de que sejam dissipadas incertezas acerca das trajetórias das variáveis fiscais para o ano corrente, contribuindo para uma percepção mais positiva sobre a evolução e a consolidação da política fiscal no país”.
Para Lopes, além de se ter clareza sobre os resultados de curto prazo, que são amplamente afetados pela contração das receitas tributárias, é importante perseverar na busca por soluções de médio e longo prazos para a questão fiscal. “O momento deve ser aproveitado para repensar as estruturas de tributos e de gastos obrigatórios do governo federal, bem como para promover reformas estruturais de forma a assegurar a consolidação fiscal em prazos mais longos”.
Ele disse que o debate iniciado em torno da reforma da Previdência e as medidas recém-anunciadas no sentido de estabelecer limites para a expansão do gasto público constituem iniciativas importantes nesse processo. “É preciso, portanto, garantir uma trajetória de resultados primários que permita a estabilização e a posterior redução do endividamento público em relação ao PIB, medida crucial para reforçar a percepção positiva sobre o ambiente econômico, para melhorar a confiança dos agentes, e para contribuir para a ancoragem das expectativas de inflação”, apontou, deixando claro que o BC não pode atuar sozinho na luta contra a inflação.
Inflação
Apesar da decisão do Banco Central de manter os juros estáveis na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), Lopes disse que existem incertezas sobre o balanço de riscos para a inflação e reconheceu que as expectativas inflacionárias do mercado têm se elevado desde agosto do ano passado.
“A piora nas expectativas fundamenta-se, em grande parte, na inflação corrente mais elevada que o esperado. Assim, à medida que o processo desinflacionário materializar-se - esperamos desinflação de 2 pontos porcentuais já neste primeiro semestre -, as expectativas deverão estabilizar-se ou mesmo apresentar retração”, argumentou.
Ele afirmou que, em relação aos riscos decorrentes de mecanismos que favorecem a persistência da inflação, “deve-se ressaltar que os efeitos cumulativos e defasados das ações de política monetária têm atuado para mitigar os impactos de segunda ordem sobre o processo de formação de preços”. Já no caso do repasse da depreciação cambial para os preços ao consumidor, o diretor apontou que esse impacto ocorre mais rapidamente do que o efeito decorrente da distensão das condições nos mercados de produto e de trabalho.
Lopes também ponderou que 2016 terá uma maior convergência entre a variação dos preços administrados e dos livres, ao mesmo tempo em que a inflação deverá passar a refletir melhor o estado da atividade econômica e das condições monetárias. “Sobre os preços administrados, importa considerar que o expressivo ajuste ocorrido em 2015, cuja variação alcançou 18%, deverá levar a significativa redução da inflação desses preços no ano corrente”, explicou.
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