A economia mundial está entrando em uma fase perigosa que poderá ver um colapso na demanda mundial, afirmou a diretora-gerente da Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. "Nuvens negras estão claramente no horizonte, no oeste da Rússia", disse Lagarde. "Se nós não trabalharmos juntos, nós poderemos enfrentar uma espiral descendente de incerteza, instabilidade financeira e colapso de demanda mundial", disse.
Falando em Moscou durante sua primeira visita ao país no comando do FMI, Lagarde pediu que os líderes mundiais ajam decisivamente e previnam uma "volta negativa, onde um anêmico e letárgico crescimento colabora para o enfraquecimento financeiro". Na última cúpula do G-20 na França, os líderes europeus não conseguiram avançar com seu plano para combater a bola de neve em que se transformou a crise da dívida.
Lagarde alertou que, se a crise se aprofundar, os mercados emergentes da Europa Oriental poderão ser "severamente atingidos" pelas exportações menores e aumento das tensões financeiras. Os bancos da região poderão enfrentar aperto de liquidez, se os credores problemáticos ocidentais retirarem de repente sua exposição devido a problemas domésticos, acrescentou. "Desta vez, os bancos do ocidente controladores, que têm sido fundamentais para manter as economias à tona, não estarão mais aqui, necessariamente, para sustentar o crescimento e a saúde desses países", disse ela.
A diretora do FMI se reuniu com o presidente russo, Dmitry Medvedev, e funcionários do Ministério das Finanças. A Rússia afirmou que considera fornecer assistência, além de seu compromisso de US$ 10 bilhões, para o FMI, em troca de uma participação de voto maior no Fundo.
"À deriva"
Após as reuniões do G-20, na semana passada, Paulo Nogueira Batista Jr., diretor-executivo do FMI para o Brasil e outros oito países, disse que a economia mundial está à deriva. Para ele, as reuniões trouxeram resultados "aquém do esperado". Ele afirmou ainda que, em caso de agravamento da crise, todos os países serão afetados.
"A reunião do G-20 foi atropelada pela Grécia. A crise toma tempo dos europeus. À margem de Cannes, os europeus realizavam minicúpulas", disse ele, durante seminário o Novo Pensamento Econômico Contribuições do Brasil para um Diálogo Global, realizado na sede do BNDES. "A crise é gravíssima, com epicentro na zona do euro. A economia mundial está à deriva", acrescentou.
Também presente ao evento, o ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero considerou o último encontro do G-20 um fracasso. Na avaliação de Ricupero, o que se observa no Brasil é inflação maior com crescimento menor na avaliação dele, "o pior dos mundos". "O que parece evidente é que a economia brasileira mostra sinais claros dos efeitos da crise mundial. Analistas já projetam um crescimento da economia brasileira mais próximo dos 3% do que de 3,5%. O que não está claro é o ponto de contágio da crise", disse ele.