O ministro de Comércio da China, Chen Deming, prometeu ontem "suporte ativo" à Europa, no momento em que países do continente enfrentam dificuldades com suas dívidas soberanas. A declaração, dada durante visita de Chen à Áustria, é um indício de que Pequim pode investir no Fundo de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês). "Todos os países estão no mesmo barco. Temos de nos manter juntos, para que a Europa possa se recuperar", afirmou Chen, segundo a Austria Press Agency. O ministro acompanha o presidente Hu Jintao em uma visita de Estado ao país europeu.
O líder chinês, no entanto, preferiu a cautela. Hu Jintao afirmou ontem acreditar que a União Europeia tem sabedoria suficiente e competência para superar seus problemas. "Nós estamos acompanhando atentamente os desdobramentos econômicos na UE em relação às atuais dificuldades", comentou após se encontrar com o presidente austríaco, Heinz Fischer. Hu também afirmou que a China considera os avanços da Europa muito positivos e que tem um parceria estratégica abrangente com a UE. Entretanto, o presidente não deu nenhum indício de que o país vá investir no EFSF.
Japão
José Manuel González-Páramo, membro do conselho executivo do Banco Central Europeu (BCE), disse ontem que é "muito provável" que o governo do Japão participe dos futuros leilões de bônus do EFSF. Os comentários foram feitos em uma entrevista para uma rádio espanhola. Também ontem, o diretor do EFSF, Klaus Regling, recebeu garantias do governo japonês de que o país vai continuar investindo no fundo de resgate e ajudará a combater a crise da dívida no continente.
Apesar das negociações com o Japão para o investimento na Europa, González-Páramo criticou intervenções isoladas no mercado de câmbio, em uma referência ao país, que vendeu ontem grandes quantidades de ienes para conter a valorização da moeda.
Coreia do Sul
A Coreia do Sul também estaria disposta a cooperar com o plano da Europa para solucionar a crise da dívida, disse o presidente sul-coreano, Lee Myung-Bak, numa entrevista ao jornal francês Le Figaro publicada ontem. "Sabemos que a China e o Japão expressaram sua disposição em participar deste plano de resgate", disse Myung-Bak, referindo-se ao pacote financeiro para a zona do euro. "No encontro do G-20, vamos ter a oportunidade de ver se outros países vão organizar isso e em que termos. Uma discussão está planejada. Se necessário, é claro, a Coreia está disposta a colaborar", afirmou.
Myung-bak acrescentou que, enquanto o acordo da semana passada para reduzir a dívida grega e aumentar o poder de fogo do EFSF é positivo, ele teme que "as medidas possam não ser suficientes para evitar uma nova crise". Os líderes do G-20 vão se reunir no fim desta semana em Cannes, na França.
"Haircut" da Grécia não será repetido, diz BCE
Agência Estado
O "haircut" parcial dos bônus da Grécia não deve ser repetido por qualquer outro país da zona do euro, afirmou ontem Jean-Claude Trichet, no seu último dia de mandato como presidente do Banco Central Europeu (BCE), após oito anos no cargo. Segundo Trichet, que será substituído pelo o presidente do Banco Central da Itália, Mario Draghi, a Grécia precisa ser vista como um caso extraordinário. Na semana passada, os líderes da zona do euro fecharam um acordo segundo o qual a Grécia terá um corte nominal de 50% no valor de face nos seus bônus detidos por investidores privados.
"É da responsabilidade dos países, individualmente, serem totalmente consistentes com o que eles dizem, ou seja, que a Grécia foi a Grécia, todo mundo reconhece que é um caso extraordinário", disse Trichet em uma entrevista publicada no site da BBC ontem. Trichet também negou que seja "humilhante" para os países da zona do euro a procura por investimento da China na sua dívida soberana. "Estamos todos no mercado global, estamos todos interligados", disse ele. "É uma forma normal de negociar", acrescentou.
O presidente do BCE disse também que a economia da Grécia deveria ter sido mais atentamente avaliada antes de se juntar à zona do euro em 2001, mas afirmou que a Grécia não cometeu nenhum erro ao lidar com a crise da dívida soberana da zona do euro, acrescentando que os erros foram feitos por governos e investidores.
Na entrevista, Trichet disse que os governos, e não os bancos centrais, são responsáveis pela manutenção da estabilidade financeira. "É preciso cuidado, porque não é nosso trabalho assegurar a estabilidade financeira no âmbito soberano é seu: individual e coletivamente", disse Trichet, dirigindo seus comentários aos líderes do governo. "Não há decisão fácil para um banco central em nenhum momento", afirmou Trichet.