O Brasil está declarando guerra às sacolas plásticas e abrindo uma discussão sobre o comum descarte de produto feito de fontes não-renováveis. Por todo o país, surgem projetos de lei que propõem a substituição da embalagem de compras. A proposta é de que sejam usadas sacolas oxibiodegradáveis, que também são de plástico, mas se desintegram em menos de um ano (as comuns levam séculos para desaparecer). A solução recomendada por deputados e vereadores virou polêmica, cheia de argumentos pró e contra o material "desintegrável". Mas a discussão é válida, garantem os especialistas. "É o começo da corrida para substituição do petróleo", diz o coordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Mário Monzoni.
A campanha pela adoção das sacolas oxibiodegradáveis teve sua primeira derrota no Paraná, há um mês. O prefeito de Curitiba, Beto Richa, vetou uma lei aprovada por unanimidade pelos vereadores que impunha a todo o comércio o novo modelo de sacola. O veto trazia como motivo a inconstitucionalidade do projeto, porque só o executivo pode propor leis que criem atribuições a órgãos públicos (a prefeitura teria de fiscalizar a substituição), mas também tem uma resposta ambiental. "A proposição de todo o comércio usasse a sacolinha elimina a possibilidade de substituição por outros materiais. Além disso, não há consenso científico de que as sacolas oxibiodegradáveis realmente funcionem", explica a assessora técnica coordenadora de resíduos da Secretária Municipal do Meio Ambiente, Marilza Oliveira Dias. Foi a repetição de decisões já tomadas na cidade e estado de São Paulo.
O material degradável ainda pode se tornar obrigatório no Paraná. Há três projetos de lei na Assembléia Legislativa propondo a obrigatoriedade do modelo. A discussão em torno da sacola alternativa trouxe à Assembléia uma comitiva de representantes da indústria plástica e petroquímica para fazer campanha contra a mudança. Eles alegam que a desintegração da sacola pode contaminar solo, água e ar, e não elimina o problema.
Mas é provável que motivos econômicos também estejam por trás de tanto esforço. Apesar do plástico não sair da composição da sacola, há agora um movimento para eliminá-lo. "Seria anormal se eles não reclamassem. Vamos sair do carvão e do petróleo para bio alguma coisa e a indústria já está se preparando para isso. Mas, se conseguirem jogar as mudanças para sempre, mais tempo eles vão ganhar", diz Monzoni.
Para o engenheiro agrônomo, especialista em gestão ambiental e territorial, Cícero Bley Júnior, material oxibiodegradável não é a melhor saída. "Não elimina o uso do plástico, que seria o ideal. Melhor seria o uso de materiais não descartáveis." Usando uma sacola de pano e comprando sacos plásticos para o lixo, o consumidor jogaria menos plástico fora, acredita Bley.
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