Já não podemos mais viver sem nossos smartphones e, em pouco tempo, não respiraremos sem relógios inteligentes, sensores de movimentos e tênis que se amarram sozinhos. Anunciada como tendência há mais de duas décadas, a tecnologia wearable (que se pode vestir) demorou para decolar, mas prepare-se: daqui a pouco não vai dar para lembrar como era viver sem ela.
Em apenas um dia de venda nos Estados Unidos, o Apple Watch, o primeiro relógio inteligente capaz de mudar nossa relação com a tecnologia de vestir, teve todas as 957 mil unidades vendidas – mas só chega às lojas físicas em junho. Capaz de registrar movimentos como subir escadas ou pegar o filho no colo ou enviar a frequência cardíaca, a tecnologia é precursora do que vem por aí.
“Esses relógios permitirão vestir uma revolução, porque proporcionam a experiência de usar tecnologia de forma integrada no nosso dia a dia”, explica Cristiano André da Costa, Doutor em Ciência da Computação e professor da Unisinos.
Na prática, esses equipamentos farão com que os usuários fiquem ainda mais conectados com seus aparelhos. Antes dos smartphones, principalmente o iPhone, não era possível saber que iríamos precisar deles o tempo todo, seja para tuitar, bater papo, curtir ou compartilhar. Professor da PUCRS e coordenador do Laboratório de Pesquisa em Mobilidade e Convergência Midiática (Ubilab), Eduardo Pellanda diz que a principal mudança é cognitiva. “O impacto disso é que temos mais um foco de atenção. A minha experiência usando o Google Glass e o relógio é que usamos menos o telefone, pois ficamos informados de maneira mais ubíqua (quando se usa quase sem perceber)”, conta Pellanda.
A maior utilização desses aparelhos – prevista por especialistas para ter uma adesão massiva em três anos no Brasil – coloca ainda mais em pauta a preocupação com a privacidade dos dados gerados, o que irá demandar maior cuidado por parte dos usuários.
“Daqui a pouco será uma coisa de gente normal, não de nerd e geek”, ressalta Costa.
Funcionalidades
Ter uma tela grudada no corpo em contato com o mundo abre possibilidades ainda não imaginadas. As principais, segundo constatou-se no evento mais consagrado do planeta na área de tendências, o South by South West (SXSW), são na área de saúde. Cristiano André da Costa diz que o atual prontuário dos pacientes é muito espalhado e que novas tecnologias vestíveis serão capazes de compilar informações e dar a elas muitas aplicabilidades, podendo controlar parâmetros e compartilhar os resultados.
Um dos usos promissores é uma espécie de backup da memória, para pacientes com Alzheimer. Junto com a Tunisian Alzheimer Association, a Samsung criou o Backup Memory, um app voltado para auxiliar pacientes com a doença a identificar pessoas. O software funcionará como um álbum de família que permite contornar a perda de memória. Quando um usuário vai ao encontro da pessoa com a doença, o app envia para o celular uma notificação com informações e fotos sobre o indivíduo para que ela reconheça se é um amigo ou familiar.
Recursos incluem monitoramento de dados em tempo real
Outra aposta da próxima geração de wearables é combinar as funções de coletar dados pessoais e, em seguida, analisá- los para fornecer informações personalizadas e sugestões baseadas neste contexto.
Exemplo disso seria detectar partículas do ar para verificar os níveis de poluição e, então, ajudar o usuário a decidir se quer permanecer ali. Daniel Silva de Souza, professor da Faculdade de Física da PUCRS, explica que funcionaria como se um sensor usado no pulso pudesse capturar o espectro do céu e as características do comportamento do ar.
Ele relembra um caso no Japão, em Fukushima, quando um equipamento com medidores de radiação portáteis foi usado para verificar em tempo real a quantidade de radiação no ambiente.
A implantação de nanorrobôs dentro do corpo de um paciente, para obter dados sobre a saúde de forma menos invasiva, é outra forma de colocar os wearables a favor da ciência. Um mecanismo externo controla o biochip, capaz de obter dados e servir como “informante dos médicos”.
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