Os brasileiros estão usando mais o cartão de crédito. A dívida com parcelamento de compras com juros e no rotativo modalidade na qual o cliente paga um valor mínimo da fatura atingiu R$ 39 bilhões. Foi o tipo de dívida que mais cresceu nesse ano, com acréscimo de cerca de 10% no acumulado até maio, segundo dados do Banco Central. O cartão de crédito é a modalidade de financiamento mais cara do mercado atualmente, com uma taxa de juros de 232% ao ano.
A carteira de compras parceladas com juros no cartão de crédito somou R$ 11,9 bilhões até maio desse ano, alta de 11,5%, segundo o BC. A do rotativo acumulou R$ 28,2 bilhões, avanço de 10,5% na mesma base de comparação. As operações de pagamento à vista, sem incidência de juros, tiveram queda de 4,5%.
O desempenho das operações com juros no cartão de crédito também está bem acima da média das demais modalidades de empréstimos para pessoa física. No total, o saldo dos financiamentos com recursos livres que incluem o crédito direto ao consumidor, aquisição de veículos, crédito consignado, dentre outros teve avanço bem mais tímido, de 1,5% na mesma base de comparação, para R$ 756,3 bilhões.
Inadimplência
No Paraná, 64,4% das famílias têm dívidas no cartão de crédito, segundo uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) em parceria com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio). A modalidade é líder disparada, à frente do financiamento do carro, com 13,6%, e da casa própria, com 10,6%.
"O cartão de crédito cresce porque é uma modalidade de financiamento que está disponível, já é pré-aprovada e é de fácil acesso", diz Priscila Andrade Takata, coordenadora da pesquisa da Fecomércio.
O crescimento desse tipo de financiamento ocorre em um momento em que a inadimplência, que se mantinha estável, voltou a subir. O calote acima de 90 dias no crédito livre para pessoas físicas ficou em 6,7% em maio, superior aos 6,5% em abril. É a maior taxa desde dezembro. No cartão de crédito, o porcentual de atrasos subiu de 22,9% para 23,9%.
Peso no orçamento
O novo ciclo de alta de juros e a inflação alta vêm apertando o orçamento das famílias. Por isso, o crescimento desse tipo de financiamento no cartão de crédito é preocupante, na avaliação do economista Marcelo Curado, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "O acesso ao cartão de crédito não está sendo motivado pelo aumento do consumo, que está desacelerando, mas sim pela rolagem de dívidas anteriores", afirma. Segundo ele, o consumidor sabe que se trata de uma forma de financiamento cara, mas acaba usando o rotativo do cartão por falta de opções.
Para Priscila, muitas pessoas acabam confundindo a renda com o limite de compras do cartão. Além disso, completa Curado, as famílias estão tentando manter o mesmo padrão de consumo em um cenário de inflação corroendo salários, ritmo menor de aumento da renda e juros elevados. "A situação mudou e manter o mesmo comportamento de consumo fatalmente gerará distorções".