A escalada do dólar fez a dívida de 109 empresas brasileiras aumentar em R$ 57,6 bilhões em menos de quatro meses. O levantamento foi feito pela provedora de informações financeiras Economática entre o começo de junho e a última terça-feira, quando a moeda americana chegou a R$ 4,05, e considerou a parcela da dívida das companhias tomada em moeda estrangeira. Quando a Petrobras é incluída no cálculo, o impacto do câmbio nas dívidas feitas em dólar sobe para R$ 162 bilhões, no mesmo período. Apenas a dívida da Petrobras deu um salto de R$ 104,4 bilhões com a valorização da divisa americana.

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“Tomamos a parte da dívida das empresas indexada à moeda estrangeira, em junho, e consideramos que a companhia não fez novos empréstimos no exterior, nem realizou pagamentos de parte desse débito nesse período. Também consideramos que toda a dívida estrangeira seja em dólares. O resultado é uma despesa financeira de R$ 162 bilhões apenas pela variação cambial”, diz Einar Ribero, gerente de relacionamento da Economática, explicando que o cálculo da Petrobras foi feito separadamente porque o tamanho da empresa distorce a amostra.

De acordo com os dados da Economática, a dívida em moeda estrangeira das companhias analisadas equivalia a R$ 190,06 bilhões em junho, quando a cotação do dólar comercial estava em R$ 3,10. Desde então, a moeda americana se valorizou 30,35% até o último dia 22 de setembro. Com o câmbio a R$ 4,05, a dívida indexada à divisa americana subiu para R$ 247,6 bilhões.

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Susto para as companhias

O levantamento da Economática mostrou ainda que o caixa das 109 companhias analisadas era de R$ 138,9 bilhões, em junho, suficiente para arcar com os compromissos em moeda estrangeira que vencem no curto prazo (nos próximos 12 meses) e somam R$ 41,7 bilhões, sem contar os gastos da Petrobras. Já a dívida em moeda estrangeira de longo prazo dessas companhias soma R$ 148,3 bilhões.

O analista Pedro Galdi, da consultoria Whatscall, lembra que as grandes companhias costumam fazer hedge de suas operações em moeda estrangeira, uma operação no mercado futuro que evita perdas com as oscilações cambiais. Mas, mesmo assim, um aumento de mais de R$ 162 bilhões num prazo tão curto é um “susto” para muitas empresas. “Quando fecham os balanços, as empresas precisam atualizar o valor desses compromissos com a nova taxa de câmbio. Ou seja, contabilmente precisam reconhecer esse prejuízo”, diz Galdi.

Segundo Fábio Zenaro, gerente de desenvolvimento da Cetip, depositária de ativos de hedge, a procura aumentou. O volume de operações de termo em dólar – instrumento que “trava” a taxa de câmbio em uma compra futura de dólar – totalizou US$ 21,3 bilhões em agosto entre empresas importadoras, as mais vulneráveis à escalada do dólar. O montante foi 18,7% maior que o registrado em janeiro. “Poucos são os empresários que não estão fazendo hedge. Já há algum tempo as companhias estão renovando suas proteções por causa da enorme incerteza”, diz Zenaro.

Pedro Galdi acrescenta que o cenário econômico conturbado e a retirada do grau de investimento do país também influenciam a dívida das companhias pelo lado dos juros. Ele estima que os resultados das empresas no terceiro trimestre deverão ser ruins pelo endividamento e também pela retração da economia.

Na outra ponta, a alta do câmbio tem impacto positivo para empresas exportadoras , como Vale e Fibria, lembra Galdi. Segundo informações de mercado, a Fibria exporta 95% de sua produção e a tonelada da celulose aumentou US$ 80 este ano. A Vale afirmou que o dólar em alta beneficia a empresa, mas não informou se faz hedge para sua dívida em dólar.

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