A expectativa de intensificação da alta do dólar ao longo do ano prejudica as empresas brasileiras que têm dívidas a ser pagas na moeda americana e ocorre justamente no momento em que o nível do endividamento externo privado atinge o maior patamar da série histórica US$ 208 bilhões no terceiro trimestre de 2014, conforme o dado mais recente. Em um intervalo de cinco anos, desde o terceiro trimestre de 2009, a dívida cresceu 86%.
O crescimento do endividamento foi provocado nos últimos anos por uma combinação entre bom momento da economia nacional, oferta de crédito no pós-crise e relativa estabilidade do câmbio entre 2012 e 2013, a moeda ficou cerca de um ano com volatilidade reduzida, cotada a aproximadamente R$ 2,05. Essa combinação de fatores motivou muitas empresas a contrair empréstimos no exterior, em busca de taxas de juros mais baixas que as nacionais e com convicção de que o câmbio seguiria em equilíbrio.
O problema é que o patamar do dólar subiu, variando hoje entre R$ 2,60 e R$ 2,70, e cria dificuldades para que a captação feita anteriormente seja honrada, já que encarece o valor do financiamento. "Em dois anos, uma dívida contraída no exterior ficou 30% mais cara. É uma elevação violentíssima", diz Bruno de Conti, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O efeito imediato desse novo cenário deve ser um freio no endividamento externo. "Os agentes do mercado estão inseguros sobre o que está por vir. Então, a tendência é de que evitem o risco cambial ou que façam captações de forma protegida", afirma de Conti.
Para os economistas, o novo nível do dólar não é capaz de provocar risco sistêmico. O cenário, por exemplo, é diferente do de 2008, quando companhias como a Aracruz tiveram grandes prejuízos com a depreciação do real. O gatilho para que as dificuldades se agravem seria a ascensão da moeda para R$ 3,00, o que é pouco provável o mercado espera que, no fim deste ano, o dólar esteja cotado a R$ 2,80, conforme informações do relatório Focus, do Banco Central.
Para Gilberto Nobre, professor de finanças da BBS Business School, a degradação das contas do governo também ameaça às captações externas. "Se o Brasil perder a nota de grau de investimento, teremos um risco grande. Como grandes fundos só podem investir em países que têm essa nota, a captação seria muito prejudicada", diz.