Percepção
População não entende a profundidade do problema
Embora os números sejam eloquentes, o brasileiro ainda não tem uma ideia muito clara sobre o próprio endividamento. Isso fica claro na pesquisa, segundo a qual 8,9% dos entrevistados afirmam comprometer mais de 50% da renda com dívidas. Apesar disso, apenas 12,5% consideram que estão com endividamento alto. Cerca de 27% se dizem pouco endividados.
Segundo Marianne Hanson, o consumidor adota critérios diferentes quando o assunto é determinar o próprio endividamento. Alguns tipos de financiamento, como o consignado que é descontado em folha de pagamento muitas vezes nem sequer é computado como dívida, o que não é uma boa prática, segundo os especialistas.
Vulnerabilidade
"Essa é uma situação vulnerável, porque o consumidor acaba não considerando o estoque total da dívida. Em geral também há dificuldade para entender o que se paga de juros e amortizações", diz Lucas Dezordi, coordenador do curso de economia da Universidade Positivo.
O endividamento recuou em junho, mas a contratação de dívidas mais longas, como o financiamento da casa própria, do carro e o crédito consignado, devem adiar a retomada do consumo no segundo semestre.
INFOGRÁFICO: Endividamento da população é superior ao registrado no ano passado
Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) divulgada ontem mostra que, em junho, 63% das famílias brasileiras tinham dívidas. Houve queda em relação ao mês anterior (64,3%), mas ainda se mantém acima do patamar de junho do ano passado, de 57,3%. O levantamento revela que o cartão de crédito lidera os financiamentos, com 76,2% dos empréstimos, seguido pelos carnês, com 17,1%, financiamento de carro (11,4%), crédito pessoal (10%) e cheque especial (6,1%).
Cresceram os empréstimos com prazos mais longos de pagamento, como o crédito consignado usado geralmente para trocar dívidas mais caras, como do cheque especial e do cartão de crédito , o financiamento de carros e da casa própria.
"O lado positivo é que são financiamentos com taxas de juros menores. Por outro lado, são dívidas mais longas, que devem comprometer a renda das famílias por um período maior", diz Marianne Hanson, economista da CNC.
O consumidor também está esticando o prazo de pagamento de compras comuns, já pressionado pela inflação e outras dívidas. De acordo com a pesquisa da CNC, 31% das famílias têm dívidas com prazo de pagamento superior a um ano.
Segundo o último dado disponível do Banco Central, o comprometimento da renda anual das famílias com dívidas incluindo a compra da casa própria - atingiu patamar recorde em abril desse ano, com 44,46%.
Com a renda comprometida com dívidas mais longas, a chance de uma rápida retomada do consumo nos próximos meses é menor, segundo a CNC. Segundo Marianne, haverá melhora, mas ela estará muito mais sustentada na redução da pressão da inflação no fim do ano do que de uma redução do endividamento.
A projeção da CNC é de que as vendas do varejo cresçam 4,5% em 2013 contra 8,4% de alta registrada no ano passado. Para Lucas Dezordi, coordenador do departamento de economia da Universidade Positivo (UP), no entanto, o desemprego deve aumentar nos próximos meses, o que também deve ser um fator inibidor de consumo e pressionar a inadimplência. Na sua avaliação, o consumo das famílias deve ficar estagnado em 2013.
Para Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador da área de economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (FGV/Ibre), até agora a sensação de bem-estar foi segurada pelos baixos níveis de desemprego, mas já é hora do governo estimular investimentos. "Não que este ano vá repetir a tragédia que foi o ano passado, mas, famílias endividadas, redução do crédito e consumo parando certamente não trarão bons frutos no futuro."
Pendências
Ciclo de alta dos juros complica crédito e renegociações
O novo ciclo de alta da taxa de juros básica da economia (Selic) que em maio chegou a 8% o maior patamar em um ano também deve encarecer a tomada de crédito e pode influenciar negativamente as renegociações de dívidas nos próximos meses Quem for negociar pendências com bancos e financeiras poderá encontrar condições menos favoráveis, com juros mais altos. "Há o risco de a trajetória de queda da inadimplência seja mais lenta", diz Marianne Hanson, economista da CNC.
Segundo a entidade, o porcentual de famílias que disseram estar inadimplentes alcançou 20,3% em maio de 2013, ante 23,2% em maio de 2012. No mês passado, 7,2% das famílias declararam que não terão condições de pagar suas contas ou dívidas.
Para Lucas Dezordi, coordenador do curso de economia da Universidade Positivo (UP), diante do atual cenário, o volume de concessão de crédito deve ficar abaixo da média dos últimos anos. "O ritmo de crescimento, de 20% ao ano, é inviável. Para esse ano, ele deve avançar no máximo 12%" , diz.
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