Empreender por necessidade ou por oportunidade? A resposta varia de acordo com as circuntâncias. Em 2000, mais da metade dos empreendedores entrevistados na pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) conduzida por um consórcio de universidades anualmente, em vários países abriram a empresa porque não encontravam outra maneira para sobreviver. Em 2010, porém, a cada empreendedor por necessidade, outros dois encontraram uma oportunidade para abrir sua empresa. Em meio a essas estatísticas, há histórias daqueles que já passaram pelos dois momentos.
Osmar Pereira hoje é diretor-presidente do Grupo Pereira do Brasil, Toledo, no Oeste do Paraná, que reúne as empresas Laticínios Pereira, nascida da necessidade, e a Bebidas Sobradinho, aberta pela oportunidade (leia mais no texto abaixo).
Morador do "interior" de Toledo, Pereira começou a vender leite para sete famílias locais em sua bicicleta, quando tinha 19 anos. "Morava no sítio, não tinha opção: ou carpia roça ou me mexia. Eu me perguntava o que iria fazer da vida e então comecei a vender o leite produzido no sítio", conta.
Mais tarde, quando outros clientes vieram, comprou um carro para melhor atendê-los. Nessa mesma época os primeiros problemas do futuro empresário surgiram: seus consumidores não pagavam em dia. "Tive problemas e vi que era hora de mudar um pouco o ramo de atuação. Foi quando me perguntaram por que não vendia o leite no supermercado. Comprei então um pasteurizador para poder vender leite em pacotes em panificadoras da cidade. Fiz alguns experimentos para desenvolver também o iogurte", lembra.
Foi em um momento de cientista que inventou o iogurte de amora com alecrim. O sabor inusitado chamou a atenção de grandes redes varejistas nacionais, que hoje vendem as marcas de iogurte Unibaby e Dinelly no Paraná e em seis estados a empresa também realiza o beneficiamento de marcas próprias das redes Pão de Açúcar e Walmart.
"O cavalo não passa encilhado por nós duas vezes, por isso aproveitei. Foi uma coisa puxando a outra, da bicicleta aos grandes supermercados", ressalta Pereira.
Após escavação, empresário descobre mina de água rara
A outra empresa do grupo de Osmar Pereira, a Bebidas Sobradinho, surgiu da mais pura sorte. Uma mina dágua do terreno onde fica a empresa, no distrito de Novo Sobradinho, em Toledo, secou e houve a necessidade de furar um poço artesiano. Disseram a Osmar Pereira que não seria preciso escavar muito fundo, mas depois de 200 metros de profundidade a água não apareceu. "Quando todos falaram que era para desistir, resolvi cavar mais um pouco. Aos 236 metros, a água apareceu", conta.
Mas não era uma água "normal". O medo de ter encontrado uma água salobra motivou vários testes para descobrir o que tinha de diferente naquela bebida. Levantamentos feitos em Toledo, Curitiba e no Rio de Janeiro comprovaram que a água que estava sob os pés de Pereira era mesmo especial: rica em vanádio, componente químico número 23 da tabela periódica, o mineral ajuda a prevenir doenças e combate a acidez estomacal. A água tem ainda pH 10, que, em uma escala de zero a 14, a coloca na casa da água alcalina, também com propriedades terapêuticas.
A combinação rara despertou o interesse comercial do empreendedor, que investiu R$ 5 milhões para prospectá-la. Agora, a Água Mineral Sferriê, com portaria de lavra expedida pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão ligado ao Ministério das Minas e Energia, desde 2010 chama a atenção de consumidores internacionais: uma delegação da Arábia Saudita foi a Toledo só para conhecer a fonte.
"Os negócios internacionais estão em andamento. Ainda não exportamos, mas estamos negociando com clientes europeus. Em 2013, queremos fortificar a nossa marca e mostrar aos brasileiros que não custa muito mais para tomar uma água de qualidade. Essa mina foi um achado comercial, mas também para as pessoas, que vão poder comprar uma água que previne doenças e faz bem à saúde", ressalta Pereira.
