Parecem dois Brasis diferentes. De um lado, um país que exige cautela após a greve de caminhoneiros e com uma incerteza eleitoral. Do outro, uma economia com ativos que estão “baratos” e com perspectiva positiva para lucro de empresas.
As diferentes leituras vêm de economistas e gestores que se debruçam sobre os mesmos dados para decidir o que fazer com os investimentos de seus clientes no Brasil. Longe de ser incomum, a divergência de avaliações é saudável, diz Axel Christensen, estrategista de investimento para América Latina e países ibéricos da gestora BlackRock.
Quem tem a visão “copo cheio” olha para a inflação sob controle e para a expectativa de crescimento econômico no longo prazo. Para Tina Byles Williams, presidente do FIS Group, que faz gestão de investimento, Bolsa, dólar e outros ativos brasileiros já apanharam muito. Estariam com preço bem inferior ao justo.
A avaliação positiva ocorre principalmente quando se compara Brasil com outros emergentes, como o México, que tem eleição em julho e é uma das economias afetadas pela mudança na política comercial americana.
Para Tina, o Brasil também pode se beneficiar do conflito entre Estados Unidos e China, por ser um dos maiores produtores de soja do mundo. “Não sei se vai conseguir ocupar o espaço deixado pelos Estados Unidos no comércio com China, mas claramente será um beneficiário se a China impuser tarifas sobre a soja americana”, afirma.
Williams vê potencial nas ações de empresas menos capitalizadas na Bolsa, as small caps. “É um dos melhores lugares para alocar recursos na América Latina, junto com Chile e Colômbia”, diz.
Patrick Jamin, responsável pela estratégia de investimentos da gestora NorthCoast Asset Management, também compartilha do otimismo.
A empresa dele comparou os indicadores de vários emergentes. Os resultados mostram que o Brasil está barato.
Segundo ele, os investidores já anteciparam o risco de eleição de um candidato não reformista - o principal temor do mercado. “Há uma perspectiva positiva para o lucro das empresas.”
Na região intermediária, o time da Capital Economics decidiu não revisar seu cenário - ainda. William Jackson, economista para mercados emergentes da casa de análise, acredita que riscos gerados pela greve dos caminhoneiros serão compensados por uma retomada em junho e julho.
O cenário eleitoral, porém, pode tumultuar. “A questão principal é se o novo governo vai ser capaz de enfrentar o grande déficit fiscal, em particular reformando o sistema previdenciário, para evitar o aumento do endividamento.”
Há também visões pessimistas, mais alinhadas à percepção de risco de analistas domésticos. Nesse grupo está, por exemplo, Claudio Irigoyen, chefe de estratégia para a América Latina do Bank of America Merrill Lynch.
Ele diz estar mais conservador em relação a Brasil. O banco reduziu à metade a projeção para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro em 2018, de 3% para 1,5%. “A greve dos caminhoneiros, o aumento do preço do petróleo, a desaceleração da economia global e a piora nas condições financeiras não ajudam, e a incerteza das eleições também não ajuda.”
Para Gabriela Santos, estrategista de mercado global da JPMorgan Asset Management, o Brasil de hoje é diferente do que despontava no início do ano, quando os investidores acreditavam que a aceleração do crescimento favoreceria a vitória de um candidato reformista nas eleições.
Esse cenário não se materializou, e a gestora reduziu de 3% para 2% a perspectiva para o PIB brasileiro neste ano.
A paralisação dos caminhoneiros, afirma, teve um impacto na atividade que não vai ser recuperado. “O investidor pode voltar, mas com uma tese de investimento diferente. Tem um preço para tudo”, diz.