Lula, Haddad e Campos Neto: com especulações sobre saúde do presidente e forte alta da taxa Selic, dólar caiu ao menor patamar desde apresentação do pacote fiscal do governo.| Foto: Ricardo Stuckert/PR
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Até dias atrás, observadores do mercado financeiro se perguntavam: o que será capaz de fazer o dólar cair abaixo de R$ 6? Os acontecimentos desta semana trouxeram a resposta. O que "aliviou" os operadores foi, primeiro, a especulação sobre a saúde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E, depois, a "pancada" do Banco Central, que promoveu a maior alta de juros em dois anos e meio.

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Os dois "eventos" levaram a taxa de câmbio ao menor patamar desde o fim de novembro, quando o governo apresentou um pacote de contenção de gastos considerado frustrante pelo mercado. Entre as medidas anunciadas na ocasião pelo ministro Fernando Haddad, da Fazenda, apareceu uma reforma no Imposto de Renda, encarada como uma nova prova de que a preocupação do governo é mais eleitoral que fiscal.

Coincidência ou não, o dólar voltou a subir após a notícia de que o procedimento realizado em Lula nesta manhã foi bem-sucedido.

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Sob influência da alta dos juros, que costuma atrair investimento estrangeiro em renda fixa, a divisa norte-americana havia começado o dia abaixo de R$ 5,90. Porém, se recuperou mais para o fim da manhã e passou a oscilar entre R$ 5,99 e R$ 6 por volta de 13h. Na sequência, o câmbio beirou os R$ 6,05 e por volta de 15h era vendido a R$ 6,03, em alta de aproximadamente 1%.

Há relatos de que importadores aproveitaram o momento de cotações mais baixas para comprar dólares, o que empurrou a moeda novamente acima dos R$ 6. Nesta quinta-feira (12), o BTG Pactual divulgou relatório afirmando que o risco fiscal tende a manter o dólar acima de R$ 6 e pode mesmo levá-lo acima de R$ 7. O banco revisou suas estimativas e agora prevê a divisa cotada a R$ 6,25 ao fim de 2025 e R$ 6,36 em dezembro de 2026.

Dólar caiu por dois dias em meio a notícias sobre saúde de Lula e expectativa pela Selic

Na segunda-feira (10), o dólar alcançou sua maior cotação nominal de fechamento, de R$ 6,08, sob influência da paralisia do pacote fiscal no Congresso. A melhora do mercado começou no dia seguinte, quando se soube da cirurgia feita às pressas para drenar uma hemorragia dentro do crânio do presidente. O dólar fechou em queda de 0,6%, cotado pouco abaixo de R$ 6,05. A B3, Bolsa de Valores, subiu 0,8%.

"Fico até sem jeito de falar isso uma vez que se trata da vida de alguém, mas nitidamente a Faria Lima vê com bons olhos essa piora do quadro clínico do presidente", escreveu o economista André Perfeito em comentário enviado à sua lista de transmissão. "A leitura é que as chances de Lula concorrer em 2026 diminuem e assim nomes da direita tendem a ganhar força na corrida eleitoral, o que poderia indicar ajustes fiscais mais fortes lá na frente", acrescentou.

Na tarde de quarta (11), o mesmo economista resumiu da seguinte forma as negociações: "Bolsa sobe 2 mil pontos e dólar cai abaixo dos R$ 6 depois de notícia sobre novo procedimento em Lula. Pronto, o comentário era esse. E todos nós sabemos o que isso quer dizer". A Bolsa fechou o dia em alta de 1%. O câmbio, em baixa de 1,3%, vendido a R$ 5,97. Além da saúde do presidente, a expectativa de forte alta da taxa básica de juros (Selic) também parece ter influenciado as operações.

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Nesta quinta, o médico de Lula informou que o procedimento realizado de manhã cedo "foi um sucesso" e que o presidente deve ter alta no início da semana que vem. O que, a julgar pelo comportamento dos últimos dias, pode abalar o humor das mesas de investimentos.

O dólar começou o dia em nova queda, chegando a cair abaixo de R$ 5,90, também sob influência de um leilão de dólares promovido pelo BC. Por volta de 11h30, porém, a moeda era vendida perto de R$ 5,95, aproximando-se da cotação da véspera. Uma hora depois, a cotação já estava em R$ 5,99. E chegou à casa dos R$ 6 perto de 13h, testando novos patamares em seguida.

A máxima do dia até a última atualização deste texto foi de R$ 6,05. Segundo o noticiário financeiro, importadores aproveitaram a cotação mais baixa em duas semanas para comprar a moeda norte-americana, o que elevou o preço.

Ao subir Selic em 1 ponto, Copom deu aviso mais "duro" desde 2016

No início do dia, o mercado reagiu ao aumento de 1 ponto porcentual da Selic e, principalmente, a um aviso dado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. Segundo o comunicado, a tendência é de que 2025 comece com duas altas do mesmo tamanho.

Segundo a consultoria LCA, o texto divulgado nesta quarta foi o mais "hawkish" ("duro") desde 2016, ano em que Dilma Rousseff (PT) foi deposta. A Selic ficou 15 meses estacionada em 14,25% ao ano entre julho de 2015 e outubro de 2016 – e é para esse patamar que o BC pretende levar a taxa no começo do próximo ano.

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O economista-chefe da G5 Partners, Luiz Otávio Leal, descreveu o movimento do BC como "agressivo" e disse entender que ele tem dois objetivos: "O primeiro seria dar um choque de credibilidade, mostrando que o Banco Central vai fazer de tudo para trazer a inflação para a meta, independentemente da postura fiscal do governo. O segundo seria dirimir as dúvidas com relação à postura do BC quando da mudança da sua diretoria e, principalmente, do seu presidente".

Em janeiro, Gabriel Galípolo, indicado de Lula, passa a comandar a autoridade monetária, em substituição a Roberto Campos Neto. Com outras substituições já programadas, o Copom terá sete integrantes nomeados pelo atual governo e dois remanescentes da gestão de Jair Bolsonaro (PL).

A maior dúvida do mercado era sobre as primeiras decisões do BC sob o comando de Galípolo. Com a sinalização feita nesta quarta, ficam "contratados" dois aumentos fortes na Selic já na largada, o que em tese tranquiliza investidores em relação à condução da política monetária.

Alta da Selic reduziria cotação do dólar no curto prazo, segundo previsão de economistas

Vários economistas ligados a bancos e casas de investimento afirmaram esperar queda do dólar no curto prazo após a decisão e o comunicado do Banco Central sobre a Selic. Mas, considerando o rápido "rebote" da moeda norte-americana nesta quinta, quando as cotações retomaram fôlego após começar o dia em forte baixa, a duração do alívio no câmbio é incerta.

"A decisão ousada e a orientação futura demonstram o compromisso do Banco Central em conter a inflação e as expectativas inflacionárias, além de recuperar sua credibilidade e a confiança dos investidores. Esperamos que o real reaja positivamente à notícia", escreveu Eirini Tsekeridou, analista de renda fixa do banco suíço Julius Baer.

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Para Claudio Pires, sócio-diretor da MAG Investimentos, com a decisão desta quarta o Banco Central se colocou "à frente do mercado" e não mais "atrás da curva". "O BC antecipou muito mais do que o mercado acreditava, o que deve ser bem recebido pelo mercado", apontou.

Quem não recebeu tão bem a decisão foi o governo, o PT e o setor produtivo. Enquanto Haddad buscou ser cauteloso ("Foi [surpresa] por um lado, mas por outro tinha uma precificação nesse sentido"), a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, descreveu a alta dos juros como "irresponsável, insana e desastrosa para o país”.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) usou palavras como "incompreensível" e "totalmente injustificada" para definir a escolha do Copom. "Não faz sentido no atual contexto econômico, marcado pela desaceleração da inflação em novembro e pelo pacote efetivo de corte de gastos apresentado pelo governo federal", afirmou a entidade, em nota.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]