À primeira vista, a cotação do dólar bateu nesta semana o recorde desde a criação do real, em 1994. Mas quando se atualiza os valores, levando em conta a correção pela inflação, o dólar está longe de superar o patamar de 2002, quando o mercado financeiro reagiu com nervosismo à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência.
Para atualizar os valores, é preciso levar em conta a inflação brasileira e a dos EUA. Por essa conta, o dólar teria de valer cerca de R$ 6,88 hoje para ser comparável com o valor de outubro de 2002. Na prática, isso indica que a pressão no câmbio lá atrás era muito maior.
Em 10 de outubro de 2002, o dólar atingiu a cotação nominal (sem o desconto da inflação) de R$ 3,99. Foi o auge das preocupações com a chegada de Lula ao Planalto. Muitos investidores tiravam recursos do país com medo de uma guinada na política econômica. Esse valor, se fosse atualizado com base no IPCA (inflação oficial do Brasil) e do CPI (índice de preços americano), seria hoje de R$ 6,88. Se for considerado o IGP-M (índice de inflação calculado pela FGV) e o CPI, o valor nominal teria de ser o equivalente a R$ 7,46. Na quinta-feira, o dólar nominal chegou aos R$ 4,2480 durante o dia.
Menor pressão
O cálculo foi feito pelo economista Alexandre Cabral, da NeoValue Investimentos, para quem a pressão atualmente no câmbio é menor. “Hoje, o país tem reservas internacionais, naquela época não tinha. Além disso, o Lula era uma incógnita, enquanto hoje você sabe quais são os problemas”, comparou. “Há uma dor de cabeça? Sem dúvida. Mas todos sabem os motivos.”
As reservas internacionais em 2002 giravam em torno de US$ 37 bilhões, enquanto hoje estão na casa dos US$ 370 bilhões – dez vezes o valor do período pré-Lula.
Cabral lembra que, no fim de 2002, o mercado de juros chegou a ficar um dia praticamente parado, ao travar as operações logo no início da sessão, com a disparada das taxas futuras. Na última quinta-feira (24), houve travamento em diferentes momentos, mas por períodos mais curtos.