Eles fizeram hora extra. Eles economizaram durante um ano. E acabaram passando as tão aguardadas férias em Nova York em um hotel precário em Chinatown.
Pétala Gomes Ribeiro, uma botânica de 29 anos do Brasil, e seu namorado de 35 anos, o jornalista e guitarrista Cid Fiuza, estão entre os turistas em visita a Nova York que sentiram o peso do aumento de 17% do dólar nos últimos 12 meses.
“Se eu soubesse que o dólar estaria tão caro eu jamais teria vindo”, disse Ribeiro, durante uma caminhada pela região da Times Square.
Não são só os turistas estrangeiros que estão sentindo o golpe. Com o aumento da divisa americana em relação a todas as principais moedas nos últimos 12 meses, as exportações estão em queda, deixando os produtores americanos em um aperto.
Em Detroit, as fabricantes de carros e de tecnologias automotivas estão descobrindo que seus produtos estão “mais caros e mais difíceis de vender nos mercados internacionais”, disse Sandy Baruah, CEO da câmara regional de comércio.
As exportações americanas de carros, peças e motores caíram quase 4% no primeiro semestre em relação a um ano antes, mostraram dados do Escritório de Análises Econômicas.
Walmart e Apple
O aumento do dólar tem pesado sobre empresas com vendas internacionais substanciais, desde gigantes do varejo como a Walmart e a Apple, fabricante do iPhone, até companhias industriais como a United Technologies.
A Walmart reduziu sua projeção de lucro anual na semana passada, dizendo que o câmbio reduziria seus ganhos. A empresa vem aumentando sua exposição internacional, ampliando o número de estabelecimentos no exterior em 54% nos últimos cinco anos, para mais de 6.300, segundo dados compilados pela Bloomberg. No ano passado, a companhia registrou cerca de 28% de suas vendas, mais de US$ 136 bilhões, fora dos EUA.
E embora as vendas de iPhones por enquanto venham sendo resilientes, “a longo prazo, um dólar americano forte não é algo positivo para os nossos negócios internacionais”, disse Luca Maestri, diretor financeiro da Apple, em uma teleconferência com analistas após o relatório de lucros do terceiro trimestre.
A United Technologies, que fabrica os motores de jatos Pratt & Whitney e os elevadores Otis, disse que o câmbio é o maior problema enfrentado pela empresa neste ano.
Com o Federal Reserve (Fed, o BC americano) caminhando para o primeiro aumento na taxa de juros em quase uma década, os estrategistas de política cambial dizem que a valorização da moeda provavelmente reduzirá as exportações líquidas e prejudicará o crescimento no segundo semestre.
O impacto no turismo pode estar apenas começando, considerando que as viagens de férias tendem a ser reservadas com meses de antecedência. O número de visitantes nos EUA deverá subir cerca de 1% neste ano, para 75,8 milhões, e o crescimento seria mais forte se não fosse a alta do dólar, segundo a Tourism Economics, uma empresa de análises da Pensilvânia. A projeção contrasta com o aumento de 6,8% nas chegadas de turistas no ano passado.
Diante da desaceleração do turismo em Nova York, o escritório de turismo respondeu aos orçamentos mais apertados dos turistas criando um site que lista atrações gratuitas ou de baixo custo.