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Cotações

Dólar barato eleva venda de pacotes ao exterior em 15% mas causa alerta nas exportações

A queda das cotações do dólar no Brasil, que já ultrapassa 6% apenas neste ano, está polarizando a discussão sobre o câmbio. De um lado, empresários reclamam da perda de competitividade do país e alertam para o risco de desindustrialização. De outro, consumidores aproveitam o barateamento das viagens ao exterior, enquanto enconomistas comemoram os melhores fundamentos da economia e a suavização do impacto do dólar sobre a inflação.

De acordo com a Associação Brasileira das Agências de Viagem (Abav), a venda de pacotes turísticos para outros países já registra um aumento de 10% a 15% na comparação com o ano passado.

O diretor internacional da Abav, Leonel Rossi, explica que a venda só não é maior por falta de assentos disponíveis:

- Desde a crise da Varig há falta de vôos, especialmente para a Europa. E isso segura um pouco as viagens internacionais - diz.

Segundo ele, nem mesmo o caos aéreo registrado desde o fim do ano passado vem arranhando os números, já que os problemas se concentram, especialmente, nas rotas domésticas.

A jornalista Raquel Medeiros, de 29 anos, está aproveitando as cotações do dólar para viajar a Buenos Aires com uma amiga. O pacote para três dias custou US$ 615, que podem ser divididos em até nove vezes.

- É uma viagem que eu não precisava fazer agora porque já conheço Buenos Aires. Mas estou aproveitando que o dólar está baixinho para passar o fim de semana lá. E vou dividir em quatro vezes para não ficar pagando as prestações eternamente - conta.

Mas se os consumidores estão empolgados, as rugas estão estampadas no rosto dos exportadores embora, em uma primeira análise, a valorização cambial ainda não venha prejudicando a balança comercial brasileira.

De acordo com dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as exportações somaram US$ 36,447 bilhões de janeiro até a primeira semana de abril, com aumento de 13,1% na comparação com o mesmo período de 2006.

No entanto, o diretor da Associação dos Exportadores do Brasil, José Augusto de Castro, alerta para a concentração das vendas ao exterior nas commodities - produtos cujas cotações são estabelecidas no mercado internacional, como minério de ferro, soja, café, combustíveis, entre outros.

- As commodities estão em um patamar tão elevado que parecem compensar a perda que registramos em outros segmentos. A venda de produtos manufaturados (como telefone celular, sapatos e automóveis, por exemplo) cujos preços dependem da atratividade da taxa de câmbio, está caindo. E, neste caso, os contratos são de longo prazo. Ou seja, se eu deixo de fazer um contrato agora e alguém ganha esta venda no meu lugar, vou ficar muito tempo fora do mercado. É o que está acontecendo - diz.

Segundo Castro, entre janeiro e março a participação de produtos manufaturados na pauta de exportações caiu de 56,5%, em 2006, para 54,6% neste ano. A de produtos básicos sobe de 27,2% para 29% e a de semi-manufaturados, "que são praticamente commodities beneficiadas", diz, aumentou de 13,8% para 14,4%.

- É claramente um efeito do câmbio - atesta, alertando ainda para o aumento das importações e suas conseqüências para a produção nacional.

Mas, o que é mais pernicioso: a ameaça de volta da inflação com o dólar mais forte, que tem impacto na renda do consumidor, ou a perda de parte das exportações?

Para a economista Cassiana Fernandes, da Mauá Investimentos, a recente queda do dólar frente ao real é resultado não de um choque temporário, com caráter especulativo, mas de um cenário que tende a perdurar.

- Enquanto essa valorização do real frente ao dólar for explicada por fundamentos econômicos, com um choque positivo em termos de trocas comerciais ou de um fluxo favorável de investimentos no país, ela é positiva. Se a valorização do real é resultado de mudança de preços, do efeito da demanda maior da China e da valorização das commodities, ela terá vindo para ficar e os empresários terão que se ajustar a esse cenário - diz.

Para ela, o Banco Central tem agido de forma correta em relação ao câmbio:

- É claro que há fatores que são temporários. Não acredito, por exemplo, que o preço da soja continuará subindo a um ritmo de 20% ao ano para o resto da vida. É por isso que o BC está comprando o excedente de dólar no mercado e fazendo reservas, para limitar qualquer efeito da volatilidade da taxa de câmbio no futuro - diz.

Cassiana acha que é inegável que o benefício para a sociedade como um todo, que passa a contar com uma cesta mais variada de compras sem impacto do câmbio na inflação, é maior que prejuízos que alguns setores exportadores venham a ter:

- Não há indícios de desindustrialização por enquanto e o problema ainda é restrito a poucos setores. O que acho extremamente positivo, e que passa à margem da discussão, é a estabilidade cambial, o aumento da previsibilidade que os empresários passaram a ter. Os exportadores devem ir na raiz do problema. O que afeta mais a sua competitividade: a valorização do real ou a alta carga tributária? - questiona.

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