O dólar caiu 1,33 por cento nesta quarta-feira, para 1,704 real, refletindo a expectativa de continuidade da entrada de recursos no país em meio à progressiva melhora do cenário internacional.
Foi a menor cotação de fechamento para o dólar desde 3 de setembro de 2008.
Há um mês, o mercado se perguntava se o dólar teria força para romper o piso de 1,80 real. Mas a taxa de câmbio rapidamente cedeu em meio ao fluxo cada vez maior de dólares ao país, estimulado pela corrida de investidores em todo o mundo para investir o excesso de liquidez após a crise em ativos mais arriscados e rentáveis.
"O mercado não consegue segurar. É muita entrada", disse Moacir Marcos Júnior, operador de câmbio da corretora Finabank, lembrando o papel de destaque do Brasil na retomada global. "É a bola da vez, e vai continuar sendo".
O destaque das últimas semanas, segundo dados divulgados pelo Banco Central nesta quarta-feira, foi a oferta de ações do Santander Brasil, que fez o BC comprar 4,6 bilhões de dólares em apenas um dia e colocou o fluxo parcial de outubro em um nível duas vezes maior que todo o saldo de setembro, a 3,73 bilhões de dólares.
Outras operações, porém, estão no horizonte do mercado, como a captação feita na véspera pelo Banco do Brasil ou as ofertas de ações de Cyrela e Cetip. Parte desses dólares, como ocorreu no caso do Santander, já circulam no mercado antes mesmo da liquidação das operações --os bancos oferecem a moeda, aumentam suas posições vendidas e aguardam a entrada efetiva dos recursos a uma taxa menor para se cobrir.
"Tem bastante gente vendida", disse Marcos Júnior, sinalizando uma aposta na valorização do real.
Nesta sessão, segundo Francisco Carvalho, gerente de câmbio da corretora BGC Liquidez, não houve nenhuma operação pontual que fosse determinante para a forte queda do dólar. "É que lá fora está muito forte", disse.
Em relação a uma cesta com as principais moedas, o dólar tinha queda de 0,64 por cento, para os menores níveis desde agosto do ano passado. Em contrapartida, as commodities tinham alta de 0,70 por cento, segundo o índice Reuters-Jefferies, e a Bovespa superava os 65 mil pontos pela primeira vez no ano.
O gatilho para esse movimento de apetite pelo risco foi dado pelo balanço do JPMorgan Chase, que mostrou resultados melhores do que o esperado no terceiro trimestre e renovou a confiança dos investidores na recuperação da economia global após a pior crise em décadas.
Antes, a Intel e a economia chinesa também haviam divulgado números melhores do que o previsto.
A queda do dólar, no entanto, tem suprimido a atividade de parte do mercado. Segundo o operador da Finabank, a corretora tem tido "uma diminuição na ordem de 75 por cento do hedge de exportador" no setor agrícola, em um sinal de cautela.
"A esperança desse pessoal é que o governo venha a dar algum tipo de incentivo.. Eles não têm nenhuma esperança de mudança no rumo do câmbio", acrescentou.