Incertezas em relação ao rumo da economia brasileira e a cautela com a crise política no país guiaram o dólar à terceira alta consecutiva em relação ao real nesta sexta-feira (24). A moeda americana chegou a bater R$ 3,357 durante o dia e fechou no maior valor em mais de 12 anos.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve valorização de 1,60% no dia e de 4,82% na semana, para R$ 3,341 na venda. É a maior cotação nominal desde 28 de março de 2003, quando estava em R$ 3,375 – em valor real (descontadas as inflações do Brasil e dos EUA no período) seria de R$ 5,285.
Já o dólar comercial, utilizado no comércio exterior, avançou 1,57% nesta sexta, para R$ 3,348 na venda – valor nominal mais alto desde 31 de março de 2003, quando estava em R$ 3,355. Na semana, houve alta de 4,82%.
Segundo operadores, o mercado continuou digerindo a decisão de corte da meta fiscal do governo brasileiro, anunciada na quarta-feira (22) pelos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa.
Agora, o governo espera fazer superavit primário de R$ 8,7 bilhões (0,15% do PIB) em 2015. Antes, o alvo era de R$ 66,3 bilhões (1,1% do PIB). Também foi colocado um dispositivo que permitiria ao país incorrer em deficit de até R$ 17,7 bilhões no ano, se as receitas extraordinárias decepcionarem.
Selo de bom pagador
Com a perspectiva de que a dívida pública aumente, o Brasil corre risco de perder o chamado grau de investimento – selo de bom pagador, obtido em 2008, quando o país entrou na rota dos grandes investidores.
A leitura é que o país terá de conviver com juros elevados por um período mais longo, apesar do impacto da recessão no controle de preços.
“Se a perda do grau de investimento se concretizar, mudará completamente a visão dos estrangeiros em relação ao Brasil e muito dinheiro deixará de ser investido por aqui”, disse Fabiano Rufato, gerente de câmbio da Western Union no Brasil.
“Os investidores sempre antecipam os fatos para minimizar o risco de perder dinheiro com ‘surpresas’ desagradáveis lá na frente. É o que está acontecendo, com o mercado precificando a possível perda do grau de investimento do país”, disse Fernando Bergallo, diretor de câmbio da TOV Corretora.
O diretor de câmbio ressaltou que a crise econômica que o Brasil vive fragiliza o governo e deteriora ainda mais o quadro político no país. “O Executivo não consegue conversar com o Legislativo, o que atrasa as aprovações de medidas do ajuste fiscal e ameaça ainda mais a nota de risco brasileira. Neste cenário, o mercado se sente perdido. É como descer a serra em um dia nebuloso, não dá para enxergar nada.”