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A cotação do Dólar disparou nesta quarta (26) em apenas alguns minutos após a abertura do mercado financeiro por causa de uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que questionou o ajuste fiscal do governo com o corte de gastos, como foi sugerido recentemente pela equipe econômica.
A declaração foi dada pouco depois da abertura do mercado enquanto Lula concedia uma entrevista ao UOL, em que sugeriu até mesmo fazer o ajuste através da arrecadação de impostos – o que já teria colapsado segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
“O problema não é que tem que cortar. O problema é se precisa efetivamente cortar ou se precisa aumentar a arrecadação. Temos que fazer essa discussão”, disse o presidente.
O Dólar abriu a manhã cotado a R$ 5,46, mas disparou para R$ 5,50 em menos de meia hora quase que simultaneamente à fala de Lula. Na máxima do dia, por volta das 10h49, a moeda alcançou os R$ 5,52 e oscilou até o meio da tarde, quando chegou a R$ 5,51.
Durante a entrevista, Lula questionou a necessidade de cortar gastos para fazer o ajuste fiscal pedido tanto pelo próprio mercado financeiro – através dos relatórios e projeções do Banco Central – como pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que cobra uma revisão principalmente nos benefícios sociais que podem estar sendo pagos irregularmente.
Lula atacou o mercado, afirmando que “sempre precifica a desgraça”, e que o governo está fazendo a análise de onde há gastos desnecessários “sem levar em conta o nervosismo do mercado”.
“Você acha que a Faria Lima tem alguém que quer mais bem ao Brasil do que eu, que tem interesse de melhorar a vida do povo mais do que eu? Vamos ser francos. Você acha que quando eles estão discutindo o aumento da taxa de juros, eles estão pensando no cara que está dormindo embaixo da ponte, na sarjeta, no cara que está morrendo de fome? Não pensam, pensam no lucro”, disparou.
Entre as opções que serão apresentadas pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), além do próprio TCU, está a revisão de benefícios concedidos pela Previdência, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), o auxílio-doença e pensões. A pasta já começou a organizar uma série de perícias que devem atingir 800 mil pessoas.
Lula garantiu que os cortes não vão atingir a vinculação destes gastos com o salário mínimo, e que ele entraria em “desgraça” se mexesse nisso. “Não vou para o céu [se mexer nisso], ficaria no purgatório”, completou.
O presidente ainda questionou a necessidade dos cortes ressaltando os gastos de R$ 92 bilhões com pagamento de precatórios – “e se a Suprema Corte aprova?” – e voltou a atacar a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia, que ele vetou e teve o veto derrubado pelo Congresso.
Ele reconheceu que a política de subsídios foi criada no segundo governo dele – e que o teria surpreendido, na semana retrasada, ao ser apresentado a um relatório que mostra uma renúncia fiscal de R$ 519 bilhões –. No entanto, disse que criou a primeira desoneração com garantia das empresas de oferecerem uma contrapartida aos trabalhadores, diferente do que vem acontecendo que o subsídio à folha se tornou uma política pública perene, que é renovada a cada 5 ou 10 anos.
Para ele, as desonerações devem ser feitas apenas por um tempo determinado para fortalecer setores que estejam passando por crise.