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Mercado financeiro

Dólar dispara no primeiro dia de Galípolo como presidente do BC

Gabriel Galípolo
Cotação da moeda bateu R$ 6,22 no primeiro dia de Gabriel Galípolo na presidência do Banco Central. (Foto: Washington Costa/Ministério da Fazenda)

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O economista Gabriel Galípolo começou nesta quinta-feira (2), primeiro dia útil de 2025, efetivamente a presidência do Banco Central sob a desconfiança do mercado financeiro e já vendo o dólar disparando no pregão. À frente da autoridade monetária, ele terá de provar que não cederá aos apelos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para baixar na canetada a taxa básica de juros, controlar a inflação para voltar à meta – estourou o teto em 2025 – e conter a disparada do dólar que segue acima dos R$ 6.

No primeiro pregão do ano, o dólar abriu o dia cotado a R$ 6,17 e, poucos minutos depois, bateu os R$ 6,22, o que mostra que os leilões da moeda realizados nos últimos dias de 2024 não surtiram o efeito esperado.

Isso ocorre ainda por conta da desconfiança do mercado financeiro com a sustentabilidade fiscal do país e ainda digerindo as propostas de corte de gastos aprovadas pelo Congresso na semana retrasada.

Ao fim do dia, após recuar para a casa dos R$ 6,15, a moeda norte-americana fechou a primeira sessão de 2025 em baixa de 0,28%, cotado a R$ 6,16.

Analistas ouvidos pela Gazeta do Povo ainda são reticentes em dar um voto de confiança a Galípolo, que terá de agir com austeridade e – a ver – se voltará a ser vidraça de Lula nas constantes reclamações por conta da taxa básica de juros. O agora ex-presidente Roberto Campos Neto era alvo constante das disparadas do petista, apontado como uma suposta gestão política por ter sido indicado ainda durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL).

“A maior percepção de risco, diante das preocupações com os rumos da política econômica nos dois últimos anos de mandato, gerou desancoragem das expectativas e forte depreciação cambial. Assim, a política monetária tem que ser, como está sendo, bastante reativa no sentido de buscar a retomada do controle”, disse Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria.

Há 11 semanas, as expectativas de inflação de 2025 estão em alta. No último boletim Focus, a sinalização é de que o IPCA fique próximo dos 5% e a Selic bata em 14,75% em dezembro do próximo ano, o que seria a taxa mais alta desde julho de 2006.

Nesse cenário, o dólar acabou disparando e acumulou uma alta de 27% frente ao real em 2024. Somente em dezembro foram feitas nove intervenções no câmbio que consumiram perto de 5% das reservas internacionais. Foi a quarta maior venda proporcional em um único mês da história do regime de câmbio flutuante.

Nos doze meses encerrados em novembro, o déficit primário do setor público consolidado – que reúne os governos federal, estadual e municipal e as empresas estatais foi de 1,65% do PIB.

Para o economista da Tendências, o principal desafio do novo presidente do BC será convencer os agentes de que irá atuar de forma realmente independente. A tentativa de Lula e da equipe econômica em dirimir as desconfianças em relação ao novo comando do BC por meio de uma mensagem no final do ano, não foi bem-sucedida.

Na gravação, ao lado de Galípolo, o presidente se disse convicto da necessidade da estabilidade econômica e do combate à inflação, afirmando que ele “será o presidente com mais autonomia que o Banco Central já teve”.

“Quando o presidente do Banco Central aceita participar deste tipo de ato, ele acaba por legitimar essa situação absolutamente descabida de que a liberdade de atuação da autoridade monetária depende de uma autorização prévia do chefe do Executivo”, diz Campos Neto, da Tendências.

Juliana Inhasz, economista do Insper, destaca que, sobre o novo comandante do BC, pesam ainda desconfianças de falas heterodoxas e polêmicas ao longo de sua trajetória no mercado financeiro. “Ele terá de provar que, de fato, ele é técnico”, diz. “E depois, administrar uma situação complicada por conta do desajuste fiscal, que vai exigir novos aumentos da taxa de juros.”

Também é certo que a pressão do Partido dos Trabalhadores pela redução da taxa de juros vai continuar. Ao lado de Lula, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, passou os últimos dois anos criticando o então presidente Roberto Campos Neto pela condução da política monetária.

Nas últimas reuniões de 2024, quando o Copom aprovou em decisões unânimes o aumento das taxas de juros, demonstrando o alinhamento entre Galípolo e Campos Neto, a reação foi um sonoro silêncio. Os integrantes do comitê voltam a discutir a taxa básica de juros nos próximos dias 28 e 29, com a expectativa de um novo aumento da Selic -- atualmente em 12,25%.

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