Eles costumam ser definidos por superlativos: são mais caros, ocupam mais espaço e consomem mais combustível. Em compensação, colecionam vantagens em atributos como design, conforto, robustez e sensação de segurança ao dirigir. E, para quem gosta do status que um automóvel pode proporcionar, se impõem como poucos no trânsito brasileiro, abarrotado de carros mais populares.
Os utilitários esportivos sempre reuniram essas características, mas, nos últimos tempos, o principal obstáculo à sua expansão no Brasil o preço deixou de ser incontornável. A desvalorização do dólar, as facilidades de crédito e o aumento da concorrência no segmento tornaram esses modelos mais acessíveis, e ficou cada vez mais comum vê-los pelas ruas.É um fenômeno que vai na contramão do que ocorre na pátria-mãe dos jipões, os Estados Unidos. Com a economia em crise e o preço da gasolina nas alturas, os norte-americanos estão tendo que deixar seus "beberrões" na garagem. No Brasil, em franco crescimento econômico e com os preços da gasolina controlados pelo governo, a situação é oposta. Por aqui, as vendas desse tipo de veículo conhecido como "SUV" no jargão da indústria automotiva têm crescido em uma velocidade que supera até a do vigoroso mercado automobilístico nacional.
No ano passado, foram vendidos 108 mil utilitários esportivos no país, 41% a mais que em 2006, enquanto o mercado total cresceu 28%, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Nos sete primeiros meses de 2008, o avanço dos SUVs foi ainda mais forte: de 57%, com vendas que já chegaram à casa das 80 mil unidades, frente ao crescimento médio de 30% da soma de todos os segmentos.
Em um mercado que já passou da marca de 1,6 milhão de automóveis neste ano, a participação dos SUVs ainda é tímida, mas vem crescendo. No mês passado, um em cada 20 automóveis vendidos no país era utilitário esportivo, e alguns modelos já têm fila de espera. Em Curitiba, quem quiser comprar um Honda CRV 4x4, por exemplo, precisa aguardar dois meses. De todo modo, variedade de opções é o que não falta: entre os 150 modelos de veículos disponíveis nas concessionárias brasileiras, 42 são utilitários esportivos.
Como a margem de lucro na venda desses modelos pode chegar a 25%, cinco vezes acima da média de carros mais populares, o segmento virou uma generosa porta de entrada para marcas desconhecidas até pouco tempo atrás, como a coreana Ssangyong. A rentabilidade maior compensa o fato de não poderem competir com os fabricantes dos chamados "carros de entrada", que ganham na quantidade. Mais experientes no Brasil, as também coreanas Hyundai e Kia só engrenaram quando passaram a se concentrar nesse segmento, destinando verbas generosas à publicidade. Hoje, essas duas marcas têm quatro jipões entre os dez mais vendidos no país.
É claro que o aquecimento da economia e a expansão dos prazos de pagamento ajuda, mas, no caso dos SUVs, o que pesou mais foi a redução dos preços, que tornou mais próximo um sonho de consumidores que já tinham certo poder aquisitivo. "Muita gente que comprava um sedã médio de R$ 60 mil migrou para utilitários esportivos importados. Alguns podem ser encontrados por pouco menos de R$ 80 mil", conta o diretor da Fenabrave no Paraná, Luiz Antônio Sebben.
O gerente comercial da concessionária Niponsul, Edenílson Reinhardt, explica que não foi só a queda do dólar que barateou os veículos. "Até o ano passado, o Honda CRV 4x4 era importado do Japão. Hoje ele vem do México, que tem acordo de redução de tarifas com o Brasil. Com isso, o preço caiu de uns R$ 130 mil para cerca de R$ 119 mil." Nesse cenário, a opção mais barata do mercado nacional, o Ford Ecosport, ainda lidera o ranking de vendas com folga, mas, com o acirramento da concorrência, a fatia do modelo tem encolhido rapidamente. Sua participação nas vendas do segmento, que era de 57% há dois anos, está em 33%.