Apesar das intervenções do Banco Central (BC), a moeda norte-americana encostou em R$ 2,40. O dólar comercial encerrou esta sexta-feira (16) vendido a R$ 2,3960, com alta de 2,46%. A moeda norte-americana bateu dois recordes no fechamento desta sexta-feira: teve a maior alta diária ante o real desde o fim de 2011 e encerrou no maior patamar em mais de quatro anos. A cotação é a maior desde 3 de março de 2009, quando a moeda tinha sido vendida a R$ 2,441. No ano, o câmbio subiu 16,99%, a maior alta acumulada desde o início das turbulências no sistema financeiro internacional. Apenas em agosto, o dólar registrou aumento de 4,97%.
Pela manhã, o Banco Central vendeu US$ 1,076 bilhão no mercado futuro para conter a alta da moeda norte-americana. Além disso, a autoridade monetária rolou (renovou) US$ 989 milhões de contratos de leilões de venda de dólares que venceriam em 2 de setembro. As ações, no entanto, não surtiram efeito. A cotação acelerou a alta depois das 13h e fechou na máxima do dia.
Desde o fim de maio, o mercado financeiro global enfrenta turbulências devido à perspectiva de que o Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, reduza os estímulos monetários para a maior economia do planeta. O Fed poderá aumentar os juros e diminuir as injeções de dólares na economia global caso o emprego e a produção nos Estados Unidos mantenham o ritmo de crescimento e afastem os sinais da crise econômica iniciada há cinco anos.
A instabilidade piorou depois de Ben Bernanke, presidente do Fed, ter declarado, em 19 de junho, que a instituição pode diminuir a compra de ativos até o fim do ano caso a economia americana continue a se recuperar. Se a ajuda diminuir, o volume de dólares em circulação cai, aumentando o preço da moeda em todo o mundo.
Nos últimos meses, o governo brasileiro tem adotado medidas para conter a valorização do dólar. Além de vender dólares no mercado futuro, o Banco Central retirou parte do compulsório sobre as apostas de que o dólar vai cair e eliminou restrições de prazos para que os exportadores financiem antecipações de pagamentos.
A equipe econômica também retirou barreiras à entrada de capitais estrangeiros no país. O Ministério da Fazenda zerou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para os estrangeiros que aplicam em renda fixa no Brasil. Desde outubro de 2010, a alíquota em vigor era 6%. A venda de moeda estrangeira no mercado futuro também ficou isenta de IOF.
Dia
O dólar subiu 2,46% para 2,3960 reais na venda, maior alta diária desde 23 de novembro de 2011, quando o avanço tinha sido de 2,94%. Além disso, é o maior nível de fechamento para a divisa desde 3 de março de 2009, quando ficou a 2,411 reais. Na máxima do dia, a divisa chegou a 2,3987 reais. "Um conjunto de fatores atuou no câmbio. Primeiro, o dólar está forte lá fora por causa expectativa de redução dos estímulos por parte do Fed. Depois, o (ministro da Fazenda, Guido) Mantega estragou ainda mais porque falou que o câmbio mais depreciado é melhor para a indústria e que o patamar do câmbio mudou mesmo", disse um operador de banco brasileiro.
O dólar ganhava força em grande parte dos mercados globais após dados positivos sobre a economia dos EUA alimentarem expectativas de que o Federal Reserve, banco central do país, diminua seu programa estímulo monetário já em setembro, reduzindo a oferta mundial de dólares.Em São Paulo, no entanto, o ministro Mantega procurou dissipar o pessimismo dos investidores, dizendo que o câmbio mais desvalorizado beneficia a indústria brasileira. O ministro reconheceu, no entanto, que a volatilidade das cotações não beneficia a economia e deve ser combatida.
"Temos muitas armas no Brasil para enfrentar uma volatilidade cambial, a primeira delas é que temos reservas muito elevadas e até agora não gastamos um tostão das nossas reservas", disse o ministro da Fazenda a jornalistas, após encontro com empresários em São Paulo, citando também os leilões de swap cambial feitos pelo Banco Central.
Embora o BC tenha concentrado sua atuação nos mercados de câmbio em ofertas de contratos de swap cambial tradicional --equivalentes a venda de dólar futuro--, alguns analistas dizem que apenas intervenções no mercado à vista conseguirão segurar o dólar agora. "As empresas não têm interesse em swap com o dólar neste nível, então quem está comprando os contratos são os especuladores. Além disso, o mercado à vista está sem liquidez. A pressão vem daí", afirmou o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme. "O BC precisa mudar de estratégia".
Os swaps vinham atendendo à demanda de empresas que buscavam proteger seus ativos em dólar do esperado fortalecimento da divisa norte-americana. Para Nehme, no entanto, essa operação deixou de ser interessante num momento em que o dólar atinge sucessivas máximas. "Quem já fez (hedge), fez. Quem não fez, prefere ficar nessa taxa".
Estratégia
O BC atuou em dois momentos nesta sessão. Logo no início do pregão, vendeu um lote total de 20 mil swaps cambiais com vencimento em 1º de abril do ano que vem, iniciando a rolagem de 100.800 contratos que vencem no início de setembro. A operação teve volume financeiro de 989 milhões de dólares, quase um quinto dos 5,04 bilhões de dólares em swaps que vencerão no mês que vem.
No segundo leilão, o BC vendeu 21,6 mil swaps para 1 de novembro de 2013 e 1 de abril de 2014, pouco mais da metade da oferta total de 40 mil contratos. O volume financeiro foi equivalente a 1,076 bilhão de dólares.
Embora analistas tenham destacado que o BC não conseguirá segurar o dólar sem atuar no mercado à vista, a autoridade monetária afirmou em comunicado na quinta-feira que "continuará com sua política de intervenções pontuais no mercado futuro de câmbio". A declaração foi interpretada por investidores como um sinal de que, por enquanto, o BC não pretende vender dólares no mercado spot.