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O dólar caiu abaixo de R$ 2 nesta terça-feira (29) e fechou na menor cotação dos últimos oito meses, rompendo o piso da banda cambial informal que havia sido imposta ao mercado pelo Banco Central (BC).

A moeda norte-americana recuou 0,83%, para R$ 1,9848 na venda, a menor cotação de fechamento desde 28 de maio, quando ficou em R$ 1,9833. Na véspera, a divisa já havia despencado 1,5%.

Para analistas, a queda do dólar é um sinal de que preocupações com a inflação começam a superar a promessa do governo de estimular as exportações, embora uma fonte do Ministério da Fazenda tenha afirmado à Reuters que a equipe econômica está mais preocupada com a promoção de investimentos.

"A inflação mais alta está trazendo preocupações", disseram os analistas do Itaú Unibanco em relatório. "Uma taxa de câmbio menos depreciada deve ajudar a reduzir as pressões inflacionárias no curto prazo."

Eles ponderaram, no entanto, que a política cambial brasileira também tem se focado na promoção do crescimento econômico. "O nível desejado para a taxa de câmbio é um equilíbrio entre esses dois objetivos."

Durante a maior parte do ano passado, o BC interveio no mercado cambial para impulsionar as cotações do dólar e beneficiar os exportadores, que têm a maior parte de seus custos em reais e receitas em moeda estrangeira.

Inicialmente, o Banco Central impôs ao mercado uma banda informal de R$ 2 a R$ 2,10 por dólar. No entanto, quando as pressões inflacionárias aumentaram no final do ano passado, o teto da banda foi reduzido para R$ 2,05.

Analistas agora acreditam que o BC quer manter o dólar em torno de R$ 2, permitindo que ele caia abaixo desse nível se necessário para reduzir o custo de produtos importados, de forma a ajudar no combate à inflação.

"Nós achamos que o dólar possa cair até R$ 1,95 ou R$ 1,90, com o Banco Central planejando usar o câmbio para controlar as expectativas de inflação", escreveram os analistas do Citibank em relatório.

O mais recente ajuste da banda cambial começou na sessão anterior, quando o dólar despencou 1,51%, para R$ 2,0014 na venda, depois que o Banco Central decidiu rolar uma série de swaps cambiais tradicionais que vencem no primeiro dia de fevereiro.

A rolagem foi interpretada como um sinal verde para a queda da moeda norte-americana, porque esses contratos de swap tradicional - que equivale à venda de dólares no mercado futuro - foram oferecidos no momento em que o dólar já recuava ante o real.

Estimulando investimento?

Embora grande parte do mercado tenha visto a mudança de patamar do dólar como um sinal de preocupações crescentes do BC com a inflação, uma fonte do Ministério da Fazenda afirmou que o governo permitiu que o dólar caísse abaixo de R$ 2 para baratear o custo de bens de capital necessários aos projetos de investimento no país.

Segundo essa fonte, que falou sob condição de anonimato, a mudança no patamar cambial visa menos ao controle da inflação do que ao estímulo dos investimentos.

Alguns analistas também afirmam que o dólar abaixo de R$ 2 deve ter mais impacto nas expectativas de inflação, ao indicar que o BC está sensível à questão, do que nos índices de preços em si.

Segundo cálculos do Nomura Securities, o BC precisaria desvalorizar o real em cerca de 10% para ter um impacto significativo na inflação.

"Embora o BC tenha claramente voltado parte de sua atenção à inflação em seu último comunicado, nós achamos muito difícil acreditar que, com uma recuperação econômica ainda muito anêmica, o governo daria luz verde ao BC para levar o dólar abaixo de R$ 1,90", afirmou em relatório o chefe de pesquisas do Nomura para as Américas, Tony Volpon.

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