Em queda pelo quarto dia útil seguido, o dólar fechou abaixo de R$ 2,20 pela primeira vez em quase seis meses. O dólar comercial fechou nesta quarta-feira (9) vendido a R$ 2,1975, no menor valor desde 30 de outubro do ano passado, quando a cotação havia atingido R$ 2,192. A cotação caiu 0,25% depois de oscilar o dia inteiro perto da estabilidade. Na mínima do dia, por volta das 15h, o dólar chegou a ser vendido a R$ 2,1917. A divisa acumula queda de 6,4% nos últimos 30 dias e de 8,1% no ano.
A queda ocorre uma semana depois de o Banco Central brasileiro ter aumentado a taxa Selic, juros básicos da economia, para 11% ao ano. Juros mais altos favorecem a entrada de capital financeiro do exterior porque tornam as taxas brasileiras mais atrativas em relação às das economias avançadas.
Também contribuiu para a queda do dólar o fato de a taxa de desemprego nos Estados Unidos ter se mantido em 6,7% em março, acima das expectativas das instituições financeiras. A resistência do desemprego em cair indica que o Federal Reserve (Fed), Banco Central norte-americano, mantenha os juros próximos de zero por mais tempo que o esperado.
No mês passado, o Fed havia indicado que poderia aumentar os juros da maior economia do planeta a partir de 2015. "Não houve confirmação da declaração de Yellen de que a primeira alta dos juros virá cerca de seis meses após o fim do 'quantitative easing'", escreveu o diretor administrativo de pesquisa para mercados emergentes do Citi, Dirk Willer, em nota.
Ele referia-se ao fato de que a ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed, divulgada nesta tarde, não trouxe referência ao "horizonte relevante" que separaria o fim do programa de compra de títulos do Fed e a primeira elevação dos juros no país, atualmente perto de zero.
No mês passado, a chair do banco central, Janet Yellen, havia atraído a atenção dos mercados ao definir esse período como "cerca de seis meses", o que imediatamente impulsionou as cotações do dólar em nível global. Juros mais altos nos EUA poderiam atrair recursos atualmente aplicados em outras economias. "O mercado entendeu que vai demorar para o Fed subir juros. As moedas lá fora passaram a se valorizar frente ao dólar e o real seguiu essa esteira", disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
Contra uma cesta de divisas, a moeda dos EUA recuava cerca de 0,3%, após operar estável na maior parte da sessão. Antes da divulgação do documento, o dólar operou em alta na maior parte do tempo, num movimento de correção após três quedas consecutivas que levaram-no a testar o patamar de R$ 2,20. "Não acredito que o dólar tenha força para cair mais. Parece que 2,20 reais é um ponto de suporte bastante importante", disse pela manhã o gerente de câmbio da corretora Fair, Mario Battistel.
Alguns especialistas no mercado avaliam que, apesar de ajudarem no combate à inflação, as cotações mais baratas desagradariam o governo, prejudicando as exportações. Apesar disso, o BC tem atuado pesadamente nos mercados de câmbio.
Pela manhã, a autoridade monetária deu continuidade às intervenções diárias vendendo a oferta total de até 4 mil swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares. Foram 1,5 mil contratos para 1º de dezembro deste ano e 2,5 mil para 2 de março do próximo, com volume equivalente a 197,8 milhões de dólares.
Além disso, também vendeu a oferta total de até 10 mil swaps para rolagem dos contratos que vencem em 2 de maio. Com isso, a autoridade monetária já rolou cerca de 23 por cento do lote total para o próximo mês, que equivale a 8,733 bilhões de dólares. Mais cedo, dados divulgados pelo BC mostraram que a autoridade monetária vendeu menos da metade da oferta nos dois leilões de venda de dólares com compromisso de recompra para rolagem que promoveu em março.
Mesmo com as recentes quedas do dólar no mercado brasileiro, o país perdeu 5 bilhões de dólares últimas duas semanas por meio do fluxo cambial, segundo dados do BC.