O dólar fechou em baixa nesta sexta-feira (29), mas terminou outubro acima de R$ 1,70 em um mês marcado pela "guerra cambial" no mundo e pelas medidas do governo contra a valorização da moeda brasileira.
A moeda norte-americana caiu 0,64% nesta sessão, para 1,703 real. No mês, o dólar registrou valorização de 0,65%, a maior desde maio.
Ao longo de outubro, o governo triplicou de 2 para 6 por cento a alíquota do IOF incidente sobre investimentos estrangeiros em renda fixa e aumentou a taxação sobre as margens de garantia depositadas por não-residentes na bolsa.
Além disso, o Ministério da Fazenda ampliou o poder de fogo do Tesouro para compras de dólares no mercado à vista e voltou a emitir bônus da dívida em reais no exterior.
Mesmo após as medidas, o dólar teve alta apenas discreta no mês. Mas, em outros mercados, a tendência de desvalorização da moeda continuou. O euro termina o mês com alta de cerca de 2 por cento, mesmo percentual de alta de uma cesta com as principais divisas, que inclui o iene.
As commodities, principal componente da pauta de exportações brasileira, subiram cerca de 4 por cento no mês.
"As medidas tiveram efeito, mas limitado", disse Carlos Allievi Jr., gestor da Infinity Asset. "Um pouco foi por elas em si, e um pouco pelo receio de novas medidas... O fluxo (de capitais) continua positivo."
AGENDA CHEIA EM NOVEMBRO
Para novembro, analistas afirmam que é impossível dizer se o dólar vai continuar ou não em torno de 1,70 real. Entre os importantes eventos ao longo do mês estão a reunião do Federal Reserve, nos dias 2 e 3, a reunião dos líderes do G20, entre 11 e 12, as eleições presidenciais no Brasil e as parlamentares nos Estados Unidos.
A reunião do Fed é vista como o evento mais importante. O principal fator para a queda do dólar no mundo nas últimas semanas é a expectativa de que o banco central norte-americano anuncie um novo pacote de estímulo econômico.
Koon Chow, Andreas Kolbe e George Christou, do Barclays, veem a possibilidade de uma alta do dólar nos próximos dias, mas de curta duração. Depois, a tendência é de queda. "Com a discussão sobre a nova rodada de estímulos nos Estados Unidos já amadurecida, o risco no curto prazo é de que haja alguma decepção. Mas, no médio prazo, a diversificação de fluxos deve continuar a pressionar as moedas emergentes para cima".
Marcelo Kfoury, Stephan Kautz e Leonardo Porto, do Citigroup, também veem a manutenção do viés de baixa do dólar no Brasil. "Nosso ceticismo com o impacto das medidas (do governo) no médio e no longo prazo nos levou a reduzir a previsão de fim de ano para o dólar a 1,65 real em 2010 (ante 1,72 anteriormente) e a 1,70 real em 2011 (ante 1,80)."
O Banco do Japão, com reunião marcada para os dias 4 e 5 de novembro, também é monitorado de perto pelos investidores por causa da política de comprar ativos para irrigar a economia.
OLHO NA ELEIÇÃO
Internamente, o principal ponto de interrogação é com o próximo governo. "Domingo a gente já sabe quem vai ganhar a eleição. Mas, independente disso, mesmo que o PT ganhe, vai ter mudanças de cadeiras lá (em Brasília)", disse Mario Battistel, gerente de câmbio da Fair Corretora.
Jorge Knauer, diretor de tesouraria do banco Prosper, chama a atenção também para a possibilidade de que novas medidas contra a valorização do real sejam anunciadas pelo governo.
Na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que está satisfeito com o que já foi alterado, mas não descartou medidas adicionais, se necessário.
"Caso o governo continue modificando ferramentas, a gente vai ter um mercado indefinido e um pouco mais volátil. Não no sentido de oscilação diária, mas de direção. Esse 'stop and go' vai continuar pelo próximo mês", disse Knauer.
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