A crise da dívida na Europa deve manter o mercado de câmbio de sobreaviso ao longo de junho, com os investidores alertas para a volatilidade que empurrou o dólar acima de 1,80 real em maio.
Mas o risco menor de moratória da Grécia e de outros países da zona do euro após o pacote trilionário da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI) pode permitir a acomodação do dólar a níveis mais baixos, diante da perspectiva de entrada de capitais no país.
A moeda norte-americana terminou o mês a 1,821 real, com alta acumulada de 4,78 por cento. Nesta sessão, com liquidez reduzida por conta do feriado do Memorial Day nos Estados Unidos, a alta foi de 0,61 por cento.
Há um mês, o dólar ameaçava cair abaixo de 1,70 real mesmo com dois leilões de compra de dólares feitos diariamente pelo Banco Central. A alta da taxa básica de juro atraía recursos ao país e o pedido de ajuda da Grécia acalmava por ora o mercado.
O cenário se deteriorou rapidamente na semana seguinte. O dólar se aproximou de 1,90 real em apenas quatro dias com a percepção de que, mesmo com os empréstimos à Grécia, a situação do euro corria perigo. Em resposta, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu comprar bônus de governos da região.
Desde então, a crise na Europa praticamente monopoliza a atenção do mercado.
"Um aprofundamento da crise na Europa é totalmente factível, já que a experiência mostra que leva tempo para que se possa restabelecer uma credibilidade fiscal perdida rapidamente", disseram economistas do Santander, em relatório.
O euro era cotado a 1,23 dólar nesta segunda-feira, quase 10 centavos mais barato do que no final de abril.
Acomodação
Mas, com o trilhão de dólares em ajuda garantida pela UE e pelo FMI, é provável também que a volatilidade diminua. Segundo o banco Fator, o cenário mais provável no curto prazo é de redução na aversão a risco, embora "sem que se retorne aos patamares dos preços dos ativos vigentes até abril".
"O contágio, dessa vez, tende a ocorrer mais pela contribuição negativa ao crescimento econômico global que pelo canal financeiro", acrescentaram os economistas do Santander.
A opinião é compartilhada por profissionais nas mesas de operações. José Carlos Amado, operador da corretora Renascença, avalia que o dólar "pode trabalhar mais próximo de 1,80 (real), se acomodar um pouco". "Mas claro que o mercado vai continuar cauteloso".
A perspectiva em termos de fluxo de capitais ainda é favorável à apreciação da moeda brasileira. Mesmo com a saída de recursos da bolsa e de outras aplicações de risco, a atuação dos exportadores garantia até o dia 21 um saldo positivo de 1,522 bilhão de dólares no fluxo cambial do mês, segundo o BC.
A continuidade da alta da Selic, conforme a previsão do mercado, também deve manter o Brasil atraente para o capital externo em um cenário de juros estagnados no exterior.
Até a sexta-feira, os investidores estrangeiros tinham cerca de 2 bilhões de dólares em posições compradas na moeda norte-americana em contratos futuros e de cupom cambial na BM&FBovespa. Na outra ponta, os bancos tinham quase 10 bilhões de dólares em posições vendidas.