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Câmbio

Dólar fecha em queda, apesar de aumento do IOF

O corte do juro no Japão a zero e a expectativa de mais estímulos nos Estados Unidos derrubaram o dólar nesta terça-feira (5), pegando o governo no contrapé após o aumento do imposto sobre investimentos estrangeiros em renda fixa.

A moeda norte-americana recuou 1%, a R$ 1,675 para venda. É o menor patamar de fechamento desde setembro de 2008, antes da quebra do banco Lehman Brothers que agravou a crise financeira global.

O governo brasileiro elevou o imposto sobre investimentos externos em renda fixa de 2% para 4% a partir desta terça-feira, em uma tentativa de frear a entrada de capital especulativo.

Mas "o mercado vê (o aumento do IOF) como inócuo diante do cenário externo", disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe da CM Capital Markets.

Às 16h30, o euro avançava 1,2%, acima de US$ 1,38 e no maior nível em oito meses. A moeda dos Estados Unidos caía 0,9% em relação a uma cesta com as principais divisas.

A tomada de crédito no exterior para aplicação no Brasil ficou ainda mais barata com o corte do juro básico no Japão a uma faixa entre zero e 0,1%.

A medida, que surpreendeu o mercado, aumentou a expectativa por um anúncio de novos estímulos também nos Estados Unidos. O presidente do Federal Reserve de Chicago, Charles Evans, disse ao Wall Street Journal que é favorável a "muito mais" estímulos à economia para combater o desemprego .

"Enquanto a liquidez global seguir alta, os preços das commodities continuarem a subir e algumas taxas de câmbio em países avançados permanecerem em queda, o mercado vai continuar a pressionar o real para cima", avaliaram Paulo Leme e Luis Cezario, economistas do banco Goldman Sachs.

Mantega pede paciência

Questionado por jornalistas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que é preciso esperar para que o IOF atue sobre a taxa de câmbio. "Às vezes você tem que tomar antibiótico por uma semana para que tenha efeito."

Ele acrescentou que o problema cambial não está restrito ao Brasil. A intervenção de governos em todo o mundo contra a valorização de suas moedas deve ser discutida no final desta semana em reunião de líderes econômicos que contará com a participação brasileira .

De acordo com Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora, o aumento do IOF tende de fato a reduzir a atratividade de investimentos de curto prazo no país. "O percentual definido torna nulo o rendimento até 139 dias (...) e reduz bruscamente o rendimento em um ano", afirmou.

Dados do Banco Central mostram que o investimento estrangeiro em títulos de renda fixa de curto prazo no país foi de US$ 1,027 bilhão entre janeiro e agosto, mais que o dobro do verificado em todo o ano passado.

Mas o próprio Tesouro Nacional reconhece que a maior parte dos investimentos estrangeiros está concentrada em títulos de longo prazo. Segundo os dados do BC, papéis de médio e longo prazos receberam US$ 10,953 bilhões até agosto neste ano, ante US$ 9,678 bilhões em todo o ano passado.

E, segundo cálculos da Safra Corretora, o aumento do IOF altera muito pouco a rentabilidade anual de um título com vencimento em 2017, de 11,34% a 10,97% - ainda muito acima dos juros pagos por papéis em economias desenvolvidas.

Expectativa

Com a indiferença do dólar ao aumento do IOF, analistas já imaginam que o governo pode apresentar outras medidas para fazer frente à valorização do real.

Para Marcelo Carvalho, chefe de pesquisa econômica para América Latina do BNP Paribas, entre as opções estão um novo aumento do IOF, extensão da nova alíquota para ações, adoção de algum tipo de quarentena, reforço da intervenção do Banco Central ou compra de dólares por meio do Fundo Soberano.

No mês passado, a incerteza sobre as possíveis medidas do governo no câmbio ajudou a manter a taxa acima de R$ 1,70 por algumas semanas, mesmo com a entrada expressiva de recursos por causa da oferta de ações da Petrobras.

Ainda assim, aponta Carvalho, "suspeitamos que os fundamentos (tanto no mundo quanto no Brasil) vão orientar a tendência do dólar ao longo do tempo".

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