As sete altas seguidas do dólar nesta semana assustaram um pouco principalmente quem estava de viagem marcada. A moeda norte-americana fechou esta sexta-feira (24) a R$ 4,10. Um discurso do presidente de Jerome Powell, presidente do FED, o Banco Central americano, acalmou um pouco os ânimos externos, mas é o cenário político interno que mais deve mexer com o mercado. A volatilidade até as eleições deste ano, no entanto, deve ser menor do que a registrada em 2002, durante a corrida vencida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É nisto que apostam alguns analistas.
"A fragilidade do Brasil hoje é fiscal, e não externa. Então ela não deve se expressar tanto no câmbio", diz o economista-chefe no País do banco suíço UBS, Tony Volpon.
O economista destaca que a principal diferença entre 2002 e 2018 é o nível das reservas internacionais, hoje quase dez vezes maiores do que as de 16 anos atrás. "O Banco Central não tinha capacidade de sinalizar que poderia conter (a volatilidade)", acrescenta.
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À época, a relação entre reservas e dívida externa total brasileira era de 17%. Em 2018, essa proporção deve ficar em 67%, segundo estimativa do Credit Suisse. "O cenário de que a dívida não vai ser paga é muito menos provável. O país pode ter de pagar juro mais caro, mas tem grande capacidade de financiamento", diz o economista Lucas Vilela, do Credit.
Para a cotação real (incluindo inflação) chegar ao patamar de 2002, o dólar teria de ultrapassar a casa dos R$ 7 — algo improvável, segundo os economistas. Na comparação com as corridas eleitorais de 2006, 2010 e 2014, no entanto, a volatilidade registrada até agora é maior.
Levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostra que o real se desvalorizou 3,41% entre junho e 20 de agosto deste ano. No mesmo período de 2014, a perda de valor da moeda brasileira foi de 2,53%. Em 2006 e 2010, houve, respectivamente, valorização de 1,3% e 2,32%.
Para Volpon, a tendência é de que a volatilidade atinja um pico às vésperas da votação. Depois, a tendência é de que o mercado se acalme conforme o eleito indique as medidas que adotará, reduzindo as incertezas.
No México, que elegeu um presidente de esquerda, Andrés Manuel López Obrador, em julho, a volatilidade diminuiu até antes das eleições, já que a vitória do candidato era dada como certa. "Esse processo de comunicação antecipada acalmou o mercado", diz Volpon.
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Apesar da situação externa mais favorável, a crise fiscal preocupa o mercado e torna a sustentabilidade dos fundamentos econômicos mais delicada que em 2002, de acordo com o economista Luiz Fernando Figueiredo, sócio-fundador da Mauá Capital e ex-diretor do Banco Central.
O resultado fiscal primário no ano em que Lula foi eleito ficou positivo em 3% do PIB, enquanto, hoje, há um déficit de 2% do PIB.
"Agora, a questão não depende apenas de confiança. Àquela época, era só manter a situação fiscal. A dificuldade será maior no ano que vem. Se não se resolver o caminho da dívida pública, vai haver uma enorme volatilidade", diz Figueiredo.
Essa fragilidade demandará uma solução para o problema fiscal, o que incluirá uma reforma da Previdência, já no primeiro semestre de 2019, de acordo com o economista.
Cenário internacional também não está tão fácil
Assim como em 2002, o cenário externo prejudica a situação brasileira. Hoje os fatores de pressão são, principalmente, a guerra comercial e as elevações na taxa de juros dos Estados Unidos. Lá atrás eram o calote da Argentina e a recessão da economia americana após o ataque às Torres Gêmeas que tornavam o financiamento brasileiro mais difícil.
"O período também era bastante hostil internacionalmente. Mas a participação do estrangeiro no país, principalmente na Bolsa, era muito menor", diz Volpon.
O presidente do banco central americano, Jerome Powell, mandou um recado nesta sexta-feira (24) ao republicano Donald Trump e defendeu a política de aumento gradual de juros nos Estados Unidos diante de uma economia em forte expansão. Isso acalmou um pouco os ânimos do mercado.
As declarações, feitas no simpósio econômico anual em Jackson Hole, Wyoming, foram acompanhadas de perto pelo mercado financeiro e tiveram reflexo no câmbio.
Às 12h25 (horário de Brasília), o dólar recuava 0,84% ante o real, para R$ 4,089, num movimento também de devolução após sete pregões de alta. Lá fora, o dólar perdia para 27 das 31 principais divisas do mundo.
Ao fim do dia, a moeda ficou em R$ 4,10, alta de 0,45% em relação ao dia anterior e após ter chegado até R$ 4,13 ao longo do dia. Com isso, nas casas de câmbio, dólar turismo não é encontrado por menos de R$ 4,22.
Powell disse que espera uma gradual, porém, firme política de aumento de juros enquanto o Federal Reserve (Fed) busca equilibrar o crescimento econômico com pressões inflacionárias e eventuais efeitos colaterais decorrentes da expansão americana.
Desde dezembro de 2015, o Fed já elevou sete vezes os juros nos EUA. Neste ano, foram duas altas, e mais duas são esperadas pelo mercado, uma na reunião de setembro e outra na de dezembro.
Trump já atacou a política monetária do Fed publicamente em três ocasiões, rompendo com uma tradição de anos em que os presidentes americanos procuraram garantir a independência do banco central.
Para o mercado internacional o aumento dos juros americanos é perigoso porque acaba por aumentar também o rendimento de investimentos em dólares. Com isso, aumenta a a procura por dólar no mercado, e o preço da moeda sobe.